02 maio 2016

Em fase de consolidação, corretoras buscam novos modelos de negócio

A H.H. Picchioni encerrou o serviço de "home broker", de compra e venda de ações pela internet, e transferiu sua área de investimentos para a Guide Investimentos. Segundo o diretor administrativo e financeiro da corretora mineira, Marivaldo Costa Chaves, não houve troca financeira no negócio, e a Guide absorveu a mesa de operações da área de produção da H.H. Picchioni, que envolve 14 funcionários. A corretora obteve lucro líquido de R$ 47 milhões em 2015, ante R$ 51 mil no ano anterior.

Chaves diz que a H.H. Picchioni continua operando e decidiu focar nos negócios de câmbio e em outras atividades do grupo empresarial, como logística, turismo, projetos imobiliários e participações societárias. A Guide não deu entrevista, mas via assessoria de imprensa informou que tem sido muito ativa ao identificar oportunidades no mercado. Já absorveu, por exemplo, as operações da Omar Camargo, Geraldo Correa, SLW e Simplific Pavarini.

O acordo entre a corretora mineira e a Guide é só mais um exemplo recente da onda de consolidação entre as casas que atuam com ações no Brasil.

Outra operação que está em curso, segundo fontes, é a união da Tullet Prebon com a Icap no Brasil. A inglesa Tullet Prebon fez uma oferta para comprar a área de corretagem global da Icap, que ainda está em andamento.

Consultadas no Brasil, as corretoras não se manifestaram.

Recentemente, a Fator Corretora anunciou que procura parceiro para terceirizar suas operações de ações. A corretora teve o pior resultado de uma lista de 76 casas no ano passado, segundo levantamento da Austin Rating, com prejuízo de R$ 43,8 milhões em 2015. Do total, 55 corretoras tiveram lucro, ante 58 no ano anterior. As casas com prejuízo passaram de 18 para 21.

O presidente da Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (Ancord), Caio Villares, diz que a entidade vem conversando com a Bovespa, Comissão de Valores Mobiliários (CVM), BC e outras esferas do governo para tentar melhorar a estrutura tributária das corretoras independentes. "Elas possuem a mesma tributação das grandes, o que se torna pouco eficiente para uma companhia pequena", afirma. A ideia é criar um tipo de empresa mais semelhante a um agente autônomo, diminuindo os encargos. O pedido foi protocolado há mais de um ano e Villares prevê um "longo caminho" nessa discussão.

Os lucros das corretoras que ficaram no azul no ano passado aumentaram 43,2%, para R$ 1,7 bilhão, enquanto, na ponta oposta, os prejuízos cresceram 69,4%, para R$ 175,6 milhões.

A maioria das corretoras com prejuízo é pequena e independente. Os bons resultados são liderados pelas grandes, atreladas a bancos, caso de Itaú, Bradesco e Santander. A única independente com lucro é a XP, em quarto lugar. Segundo o economista-chefe da Austin, Alex Agostini, corretoras de bancos têm mais facilidade para captar clientes no varejo, com valores menores. Já as casas independentes costumam atender o perfil com renda maior, mas mais difícil de atrair.

Para sobreviver, as instituições menores seguem buscando terceirizar alguns serviços, caso da Fator, ou a diversificação. Nessa nova fase, a Fator, que já foi muito tradicional em ações, com uma grande equipe de análise, pretende focar na renda fixa. É a aposta de muitas outras corretoras, que se confrontam com o menor interesse da pessoa física pelo mercado de renda variável nos últimos anos.
Na XP, o sócio-fundador Guilherme Benchimol diz que, em 2010, 98% do lucro vinha de corretagem de ações. Hoje, chega a no máximo 27%. A maior fatia vem da renda fixa (35%), depois de fundos (30%).

A XP trabalha agora para ter o próprio banco. "Estamos conversando com o Banco Central, mas ainda não fechamos com nenhum banco. Estamos avançados em dois cases e esperamos fechar nas próximas semanas", diz, referindo-se a intenção de fazer uma aquisição como um atalho para seus planos. O próprio Benchimol já declarou interesse pelas operações do Citi no Brasil, por exemplo. A ideia é ser uma empresa de investimentos completa, verticalizando ainda mais o processo com o banco e "vender tudo o que o mercado oferece". No processo de consolidação, a XP comprou a Clear há um ano e a carteira da UM Investimentos.

Para fazer frente aos investimentos, recentemente a XP recebeu um aporte de capital. A General Atlantic, uma de suas controladoras, decidiu comprar a fatia que a inglesa Actis possuía na corretora. No fim da transação, a GA desembolsará R$ 300 milhões pela parte da Actis e R$ 150 milhões para a própria XP, passando a deter 43% do capital.

A coreana Mirae quer aproveitar o momento de crise para crescer e contratou dois dos funcionários demitidos pela Fator, da área de ações. O diretor operacional, Pablo Spyer, diz que a casa vai contratar mais funcionários, pois tem tradição em montar estratégias em tempos de crise. "Queremos priorizar BM&F e Bovespa. Acreditamos que a crise é passageira e o país vai se recuperar", afirma.
A Mirae tem 6 mil clientes ativos de home broker e está reestruturando o segmento de renda fixa. Acaba de contratar Olavo de Souza, vindo do Banco Votorantim, para ser o responsável pela mesa da área. A instituição também espera migração de novas custódias da Ásia para o Brasil após a saída do HSBC dos títulos de renda fixa. A casa tem 45 funcionários no Brasil.

Na Planner, Carlos Arnaldo Borges de Souza, sócio e responsável pela holding financeira, afirma que a intenção é adequar sua estrutura tecnológica para atender mais corretoras menores que queiram operar sob o sistema de terceirização de operações. Para tanto, precisa investir entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões. Na sua plataforma, tem uma corretora e duas distribuidoras e negocia com mais uma corretora que vai migrar de modelo. - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 02/05/2016 

02 maio 2016



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