23 dezembro 2015

Queda de fretes, grandes fusões e super oferta

Em retrospectiva anual de 2015, analista financeiro aponta para o desaquecimento do mercado, as grandes fusões e a oferta excedente como principais causadores da queda de fretes e de ações das companhias marítimas

O analista financeiro Richard Ward, autor de um relatório diário sobre o mercado mundial de contêineres, fez um balanço anual de 2015, no qual menciona a derrocada dos fretes marítimos, as grandes fusões e acordos e o comportamento das ações de mercado das principais empresas de navegação.

Ward menciona que, com as baixas constantes que vimos acompanhando nas rotas entre a Ásia e o Noroeste da Europa, e a Costa Leste dos Estados Unidos, as companhias marítimas têm claramente demonstrado pouca propensão a adotar novas medidas para a estabilização das tarifas, o que vai gerar resultados previsíveis. Segundo ele, especialmente no mercado Ásia – NWE, o ano de 2015 começou com mais lamúria do que atitude, já que o costumeiro aumento nas tarifas que antecede o ano novo chinês não chegou a se materializar em escala significativa. Os poucos aumentos que, de fato, foram aplicados, caíram rapidamente, uma situação que se repetiu durante todo o ano, apesar de inúmeras tentativas, também fracassadas, de imposição de tarifas com excedentes (GRIs).

Estados Unidos
Para o mercado norte-americano, no entanto, o relatório menciona uma história diferente, com o mercado influenciado por uma disputa de contratos entre a PMA (Pacific Maritime Association) e o sindicato de portuários ILWU (International Longshore and Warehouse Union), que levou a problemas sérios de congestionamento. O caos logístico resultante dos contenciosos levou as tarifas da costa leste a disparar para acima de US$ 5 mil por FEU em fevereiro de 2015, uma situação que durou pouco, já que, ao fim do mês, as tarifas da costa leste já estavam em queda livre, chegando a cair 42% no fim do segundo trimestre. Assim permaneceram as tendências durante todo o restante do ano, até chegar à marca atual constante de irrisórios US$ 1.506 por FEU (dados de 11 de dezembro de 2015).

Questões globais
O mercado em baixa, porém, não se restringiu à costa leste Americana. Com a impossibilidade de aplicar GRIs, a rota entre a Ásia e o noroeste europeu viu as tarifas chegarem a cair para até US$ 205 por Teu, conforme registrado em junho. As quedas foram generalizadas: Mediterrâneo, Golfo Pérsico, Austrália, América do Sul, Coreia e Sudeste Asiático, refletindo a combinação de recessão e superoferta que vitimou o mercado neste ano.
No mercado de transitários – FFA (Forward Freight Agreement), no início do ano, os contratos de 2105 estavam baseados no valor de US$ 1.150 por Teu, uma tarifa que, mais tarde, se mostraria significativamente mais alta do que a média anual. Transportadores que não conseguiram manter medidas de precaução contra a oscilação de fretes perderam a oportunidade de garantir uma parcela significativa do faturamento, ficando, portanto, completamente expostos às quedas implacáveis que seguiram a partir de então.

Fusões, incorporações e o mercado de ações
No que diz respeito às grandes fusões que vimos no ano, o relatório de Ward diz que 2015 foi marcado grandes desdobramentos, principalmente no que se refere à antecipada consolidação do mercado. As primeiras notícias sobre a potencial fusão entre as duas enormes empresas públicas chinesas COSCO e CSCL surgiram no meio do ano, porém a negociação logo foi suspensa por quatro meses. Em um movimento aparentemente na defensiva, para ganho de posição entre concorrentes, a CMA CGM anunciou a aquisição da deficitária APL, em uma operação que a empresa francesa justificou para o mercado com uma frase amplamente disseminada: “o ganho de escala é cada vez mais crucial”.

Os investidores ainda se mostram cautelosos quanto à fusão da COSCO com a CSCL, uma vez que as ações da COSCO caíram recentemente a um índice notável de 28%, em decorrência da suspensão da proibição de transações comerciais (trading ban). No entanto, a extensão das sinergias e a otimização de custos que as duas fusões poderão alcançar, somente o tempo poderá nos dizer.

Enquanto isso, ainda no mercado de ações, Ward relembra que a alemã Hapag-Lloyd enfrentou um período de ofertas públicas bastante acanhadas, e precisou revisar o valor das ações, que flutuavam de EUR 23 a 29, passando-as para EUR 20 a 22, além de estender o período da oferta. O timing, de certa forma infeliz, a maior companhia de navegação, Maersk Line, divulgou ter reduzido suas estimativas anuais de lucro em US$ 400 milhões (passando para US$ 3,4 bilhões) foi provavelmente o estopim para conter o apetite dos investidores nas ações das companhias marítimas em geral.

Expectativas para 2016
A previsão para 2016 é que o ano não parece oferecer perspectivas muito melhores, principalmente com os fretes oficialmente divulgados a US$ 600 por FEU na rota Ásia – NWE. De acordo com o relatório, não há dúvidas de que a situação tende a pressionar o mercado atual, assim como qualquer tentativa future de aumento de tarifas. Com as tarifas FFA atualmente estabelecidas a cerca de US$ 1.000 a 1.100 por FEU, companhias em busca de alguma certeza em 2016 poderão se ater a esses parâmetros.

Ward acredita haver no mercado poucas linhas confiantes de que as bases possam melhorar ao ponto de não ser necessário planejar uma ação para o futuro. Com uma oferta adicional de 1,3 milhões de Teus prestes a entrar na frota mundial no próximo ano, o índice de Oferta e Demanda do instituto de pesquisas Drewry tende a cair ao nível mais baixo da história, indicando que o excedente da capacidade será ainda maior do que o vivenciado em 2009.

Historicamente, as companhias não têm muita tradição de fazer uso ferramentas de gerenciamento de risco, e geralmente sem examinar oportunidades de contenção de fretes, melhoria das margens e reforço dos valores de ações. Ao se aterem a uma política de uso de tarifas contratadas e spot, esperando que tudo dê certo, a impressão que se tem é que eles administram um jogo de cassino com os fretes – e fica claro que a sorte já os deixou faz algum tempo.

Concluindo seu relatório anual, Richard Ward menciona uma frase de Einstein sobre a insanidade: “aqueles que decidirem apostar no jogo de fretes em 2016 estarão insistindo na mesma ação, repetidamente, e esperando resultados diferentes”. Cleci Leão Leia mais em guiamaritimo 23/12/2015

23 dezembro 2015



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