06 agosto 2015

Mineradoras enfrentam paradoxo para crescer

As mineradoras globais têm de se preparar para uma retomada do ciclo de alta das commodities. Na opinião de Daniel Peixoto, diretor de auditoria do Centro de Energia e Recursos Naturais, da EY (antiga Ernst & Young), as empresas terão um caminho árduo pela frente para convencer acionistas e partes relacionadas de que o momento pode ser de investir para se aproveitar mais da recuperação desse cenário.

O especialista lembra que alguns metais, como o cobre e o zinco, dão sinais de que os preços iniciam uma inversão de tendência. Isso se daria, especialmente, por conta da dinâmica das companhias, que, percebendo a falta de balanço entre oferta e demanda, começaram a segurar a capacidade. Para ele, como o cenário pode significar um novo ciclo, a hora de investir seria agora.

"As empresas que produzem esses metais têm de se planejar sobre o futuro crescimento", afirma, em entrevista ao Valor. "É aí que entram perspectivas de fusões e aquisições ou de construção de seus próprios ativos, com despesas em nova exploração."

Estudo realizado globalmente pela EY mostra que esse seria o principal fator rondando as operações de mineradoras no momento: a necessidade de voltar a crescer. O momento é cada vez mais de disciplina de capital e entrega de retorno a acionistas, mas as companhias vão precisar se expandir quando o ambiente melhorar, pondera Peixoto.

É por isso que a perspectiva do diretor de auditoria é que o mercado de fusões e aquisições pode ficar agitado a partir do ano que vem. A perspectiva vai depender, completa o analista, de os sinais de retomada se materializarem. A recuperação, contudo, será gradual.

A grande dificuldade é enfrentar a austeridade atual da mineração. Na opinião de Peixoto, salvar margens e enxugar operações é a ordem do momento entre os executivos, por conta da cobrança dos acionistas. "Investir para crescer nesse ambiente é um paradoxo, por isso é difícil. O mercado financeiro é avesso ao risco, se depara com essa realidade de preços bastante baixos e é difícil imaginar o crescimento", afirma. "A resposta que os investidores estão acostumados a ouvir é 'corte de custos'. O trabalho de convencimento é árduo, mas já vemos indicações disso."

Conter gastos seria o segundo fator mais importante para o momento, mostra o estudo. A EY lembra que, durante o chamado superciclo das commodities, a produtividade do setor caiu à menor taxa em pelo menos 30 anos. "Conselhos e executivos reconheceram rapidamente que recuperar a produtividade perdida e acessar as melhorias que outros setores alcançaram na última década com isso é essencial para o retorno de longo prazo em capital investido", diz o texto.

No caso do minério de ferro, porém o caminho pode ser mais complicado. Isso porque, na visão de Peixoto, a commodity estaria praticamente "capitaneando" a ponta negativa de expectativas, ao lado da siderurgia, que é a principal demandadora do insumo.

O minério valia US$ 180 a tonelada há quatro anos, mas os preços recuaram muito. Há dois meses, a cotação caiu a US$ 45 e agora ronda os US$ 50. O diretor da EY vê como "particular" o balanço entre oferta e demanda nesse caso, por conta da perda de ritmo da economia chinesa e dos grandes investimentos das maiores companhias - que até agora não sinalizaram que vão colocar o pé no freio em termos de produção.

"Temos de nos preparar para a realidade de cada mineradora, mas no caso do minério de ferro, essa análise tem de ser ainda mais cuidadosa", afirma Peixoto. "O começo do investimento [para retomar o crescimento] tem de estar em linha com o plano estratégico de cada uma e coincidir com o período de maturação dos ativos."

A perspectiva é que a recuperação da commodity demore mais do que para os outros metais. E mesmo nesse caso, Peixoto lembra que analistas e agentes do mercado preveem que a estabilização se dará mais próxima dos US$ 80 - e não os quase US$ 200 observados anteriormente. Fonte: Valor Econômico/Renato Rostás | De São Paulo Leia mais em portosenavios 05/08/2015

06 agosto 2015



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