02 março 2015

Quest vende 60% do capital a grupo europeu

Um dos sobreviventes de crises e reformas econômicas no Brasil deixa o mercado financeiro após 45 anos. Luiz Carlos Mendonça de Barros está se desfazendo de 36% do capital da Quest Investimentos - participação que lhe garantia o controle da empresa. A aquisição das ações por uma gestora de recursos europeia é bem maior - de 60% do capital total - com a adesão de outros sócios à operação. O BTG Pactual vende aos europeus 15% e outros minoritários passam adiante outros 9% do capital.

Em entrevista ao Valor, Mendonça de Barros manteve sob sigilo a identidade de sua contraparte no negócio e também não revelou o valor da transação. "A empresa é de capital aberto, tem ações negociadas em bolsas internacionais e depende de um sinal verde de órgãos reguladores europeus para tornar pública a aquisição", diz o engenheiro que já comandou o Ministério das Telecomunicações e o BNDES e que será o presidente do comitê de investimentos de uma nova empresa para distribuição de produtos da Quest, criada no país pelo grupo europeu.

"Essa operação garante à Quest um braço financeiro que cuidará da captação de recursos. A Quest se especializou em atender investidores de grande porte, principalmente os institucionais, mas acredito que haverá uma forte expansão das operações nos próximos três anos e a parceria com a gestora europeia viabilizará a chegada de investidores menores porque já tem essa expertise na zona do euro."

Atualmente, a Quest Investimentos tem sob gestão R$ 2,1 bilhões de recursos. "Há seis meses tínhamos R$ 2,3 bilhões. O desempenho sofrível da bolsa brasileira engoliu R$ 200 milhões", conta Mendonça de Barros que, apesar de destacar essa perda, se mostra otimista com o Brasil. "Estamos vivendo um fim de ciclo na economia e na política. Estou convencido de que nos próximos dois anos criaremos condições para consolidar o cenário de crescimento econômico", afirma o ex-ministro que confessa ter usado esse mesmo argumento para selar a venda de 60% do capital da Quest para os europeus. "O Brasil voltará a crescer, teremos eleições e vejo o país caminhando para a direita e para um governo reformista."

Criada em 2001, a venda de 60% do capital de uma das gestoras mais tradicionais do mercado nacional foi selada com um acordo de acionistas que dará aos sócios brasileiros da Quest total independência na gestão das carteiras. "O acordo implica que ao longo de oito anos a participação dos europeus no capital aumentará até que, no fim desse período, eles tenham o direito de adquirir todas as ações dos demais sócios", diz Mendonça de Barros ao Valor.

A operação com o grupo europeu não vai alterar em nada a política de distribuição de bônus e dividendos para os sócios minoritários que trabalham no dia a dia da Quest e continuaram a tocar a gestora, mesmo com a entrada dos novos sócios. Em 2011, quando o BTG Pactual adquiriu 15% do capital da gestora, essa política de distribuição também foi mantida.

A estrutura da Quest Investimentos não será alterada. O gestor principal de investimentos, Alexandre Silvério, um dos sócios da empresa que detém 15% do capital mantém a posição e também sua função. Silvério tem ligado a ele um grupo de seis profissionais que são sócios minoritários e especialistas em administração de carteiras de ações.

Walter Maciel sobe ao comando da Quest, posição da qual Mendonça de Barros está se afastando com o sentimento de fim de ciclo: "Este mundo já não é mais para mim. Minha geração viveu muita crise e muito ajuste. É hora de passar o bastão", confessa o polêmico gestor sem demonstrar saudosismo. Angela Bittencourt  De São Paulo Valor Econômico - Leia mais em resenhaeletronica 02/03/2015

02 março 2015



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