25 fevereiro 2015

Novas terapias para combater o câncer atraem investimentos

George Soros, Michael Milken e David Bonderman são alguns dos grandes investidores se beneficiando das apostas iniciais que fizeram num setor bastante aquecido: empresas jovens desenvolvendo remédios que combatem o câncer usando o sistema imunológico do próprio corpo.

O interesse na nova abordagem, conhecida como imunoterapia, deslanchou após o sucesso da Yervoy e da Opdivo, duas drogas desenvolvidas pela gigante farmacêutica Bristol­Myers Squibb Co. Os remédios podem gerar US$ 8,5 bilhões em receitas anuais até 2020, prevê o Credit Suisse, ou mais da metade dos US$ 15,9 bilhões que a empresa americana faturou em 2014.

A expectativa de que firmas novatas repetirão e continuarão esses avanços estão por trás da alta recente na cotação das ações da Juno Therapeutics Inc., Kite Pharma Inc.e bluebird bio Inc. Seus remédios, baseados em princípios diferentes dos da Bristol­ Meyers, ainda não chegaram ao mercado.

"É claramente algo novo e não será um mar de rosas", diz Arie Belldegrun, presidente do conselho e diretor­-presidente da Kite. "Mas se pudermos entregar o que prometemos, pela primeira vez não se falará em remissão? você vai poder até falar em cura do câncer." No início deste mês, a Standard & Poor's divulgou um relatório citando cinco agentes imunoterápicos contra o câncer em sua lista das dez maiores expectativas de drogas para 2015, destacando o entusiasmo crescente pelo método. Os remédios entraram na lista pelo seu potencial de campeões de vendas, assim como pelo provável impacto que terão nas empresas. Não havia nenhuma droga imunoterápica na lista anterior, em 2009.

Mais empresas estão obtendo "uma compreensão profunda em áreas subjacentes da biologia, além de um entendimento dos sistemas biológicos que podem transformar o tratamento de muitas doenças extremamente sérias", diz James E. Flynn, sócio-gerente da Deerfield Management Co., uma firma de investimentos que aposta na área.

Entre as empresas que estão impulsionando o atual interesse, apenas a Bristol­Myers e a Merck Co. possuem drogas imunoterápicas aprovadas pela Food and Drug Administration, a agência americana que regula alimentos e remédios. Para muitas das empresas menos capitalizadas, ainda será necessário um ano ou mais antes que estudos ajudem a esclarecer os benefícios, os riscos e o potencial de mercado de seus tratamentos.

As ações da Juno, que desenvolve medicamentos para leucemia e linfomas, fecharam o pregão de ontem a US$ 45,51, depois de serem cotadas a US$ 24 na sua estreia na bolsa, em dezembro. As da Kite Pharma também deram um salto, passando de US$ 28 para US$ 63,82 desde o início de outubro. As da bluebird bio, impulsionada mais pelo avanço das drogas de terapia genética que pela imunoterapia, subiram de US$ 39 para US$ 93,80 desde o início de dezembro.

Os tratamentos das três empresas são complexos, provavelmente serão caros e devem causar vários efeitos colaterais em alguns pacientes. Nenhum foi aprovado ainda. Mas a estratégia revelou resultados surpreendentes no tratamento de leucemia e outras variedades de câncer no sangue em experimentos iniciais. Agora, pesquisadores estão competindo para descobrir formas de estender sua utilização a outros tipos de câncer.

De fato, pesquisadores em todo o mundo estão trabalhando em vários tipos de tratamentos imunoterápicos. Eles também buscam formas de combinar novos remédios com os já existentes para combater todos os tipos de câncer e estender seu benefícios a mais pacientes.

Bonderman, fundador da TPG Capital, é o quarto maior acionista e membro do conselho da Kite, detendo mais de 6% das ações da empresa numa fatia originária de um investimento pessoal anterior, segundo dados da firma FactSet. Ele viu o valor dos papéis saltar para cerca de US$ 145 milhões.

Outro pioneiro dos investimentos na área, o veterano dos fundos de hedge Donald Sussman, fundador da Paloma Partners Management, possui uma fatia na Kite avaliada em torno de US$ 100 milhões, segundo documentos regulatórios.

Representantes de Bonderman e Sussman não quiseram comentar.

A Soros Fund Management, empresa que faz a gestão da fortuna do megainvestidor George Soros, é o 11º maior acionista da Kite, com uma participação de cerca de 1,7%, depois de ter comprado as ações quando elas eram cotadas a menos de US$ 30 em meados de 2014, de acordo com documentos regulatórios. Um porta­-voz não quis comentar.

A Deerfield Management possui cerca de 4% das ações da bluebird, segundo os mais recentes documentos regulatórios, enquanto a Point72 Asset Management LP, de Steve Cohen, detém quase 2%. Um porta-­voz da Point72 não comentou.

O fundador da Amazon.com Inc., Jeff Bezos, e um dos fundadores da Microsoft, Paul Allen, são investidores da Juno, segundo Robert Nelsen, um dos fundadores da empresa de capital de risco Arch Venture Partners, que controla participações avaliadas em US$ 1 bilhão em quase uma dezena de empresas que pesquisam a imunoterapia e outros tratamentos para o câncer. A Arch possui cerca de US$ 470 milhões em ações da Juno, que ajudou a fundar, assim como US$ 78 milhões na bluebird.

O porta-­voz de Allen confirmou o investimento dele na Juno. Um porta­voz da Amazon.com não quis comentar.

Os fundos de pensão e de capital de risco estão entre os que mais investem em imunoterapia. O Alaska Permanent Fund Corp. foi um investidor inicial da Juno e possui uma fatia de quase 30% avaliada em aproximadamente US$ 1,1 bilhão. O fundo de investimento do Estado americano ainda não vendeu nenhuma das ações.

A Bristol e outras empresas que pesquisam drogas imunoterápicas, como Merck, Roche Holding AG, AstraZeneca PLC e Novartis AG, são tão grandes que o impacto financeiro de seus remédios baseados na imunoterapia pode ser diluído pelos outros negócios. Esse é o motivo pelo qual os investidores estão apostando em empresas menores.

Mas nem tudo são boas notícias na área de imunoterapia: a Dendreon Corp. ­ cuja vacina para câncer de próstata, a Provenge, foi considerada a primeira droga imunoterápica ao ser aprovada, em 2010 ­ fracassou em meio à eficácia limitada da vacina, erros de marketing e remédios concorrentes melhores. A Dendreon, que está em processo de recuperação judicial, deve ser vendida este mês para a Valeant Pharmaceuticals International Inc. por US$ 495 milhões.  Fonte: Valor Econômico Autor: Gregory Zuckerman e Ron Winslow, The Wall Street Journal Leia mais em tudofarma 25/02/2015

25 fevereiro 2015



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