20 março 2014

Bolsa fraca deve atrapalhar mercado de fusões e aquisições

Ao mesmo tempo, a participação dos fundos private equity nos negócios deve aumentar, avalia a Anbima

 Este deve ser um ano mais fraco para o mercado de fusões e aquisições, por conta da piora da bolsa. A avaliação é de Ubiratan Machado, coordenador do subcomitê de fusões e aquisições da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Ao mesmo tempo, a participação dos fundos de participações, ou private equity, nos negócios deve aumentar.

 “Deve ser um ano pior que o ano passado, mas melhor que 2012”, afirmou, durante apresentação do balanço do setor no ano. Em 2013, o volume de fusões e aquisições anunciado ficou em R$ 165,3 bilhões, 35% acima dos R$ 122,3 bilhões de 2012.

 Este ano pode ser ajudado um pouco pelo fato de que a maior parte das fusões e aquisições de 2013 se concentrou no segundo semestre, e parte delas ficou para janeiro e fevereiro de 2014. “Mas a palavra para definir o sentimento do mercado sobre o que esperar para este ano é ‘receio’”, afirmou.

 Visão de longo prazo 

 Machado observou que as incertezas com as eleições e com a economia local e internacional não impactam tanto as fusões e aquisições porque são negócios de longo prazo, vários anos. Por isso, esse mercado deve ser menos sensível do que o mercado de capitais, que tem comportamento de curto prazo e tende a sofrer mais pelas incertezas de uma maneira geral.

 Bolsa atrapalha 

 Mas, como muitas operações de fusão e aquisição dependem da bolsa, seja para uma abertura de capital (IPO, na sigla em inglês), seja para uma oferta adicional (follow-on), elas também sofrem. “Este ano, o mercado de capitais não vai ajudar o de fusões e aquisições”, afirmou.

 No ano passado, por exemplo, o uso de ações para pagamento das aquisições cresceu para 30% do total movimentado, ante 13,9% de 2012. Mais de 50% ainda são pagos em dinheiro, diferentemente do exterior, onde a forma mais comum é o pagamento em ações.

 “Esperamos que o pagamento em ações represente uma parcela maior à medida que mercado brasileiro de capitais se desenvolva mais”, disse.

 Mais private equity 

 Já para os fundos de private equity, a situação pode até melhorar, uma vez que, sem a opção de captar recursos na bolsa, as empresas devem se voltar para esses fundos de participações para obter recursos. 

“Num momento em que as empresas não conseguem financiamento no mercado de capitais, podem procurar mais private equity”, diz. No ano passado, esses fundos responderam por R$ 38,6 bilhões das operações de fusões e aquisições, ou 23,4% do total do ano. Foram 50 operações, das 181 realizadas no mercado.

 Desvalorização do real ajuda 

A alta do dólar e o enfraquecimento do real também podem ajudar a aumentar o interesse do estrangeiro pelas empresas brasileiras, afirma Machado. Com o dólar alto, as empresas brasileiras ficam mais baratas. Mas esse efeito só será sentido se não houver muita oscilação.

 “Instabilidade cambial atrapalha, como no primeiro semestre do ano passado, com o dólar saindo de menos de R$ 2 para R$ 2,30″, explicou. “Os empresários ficam sem condições de avaliar os negócios e esperam e quando a moeda se estabiliza, saem mais negócios”, disse.

 O dólar, segundo Machado, tem grande impacto no mercado de fusões e aquisições por mexer com os preços das empresas. E isso vale também para os fundos de private equity, muitos deles formados por recursos de estrangeiros.

 “Os fundos de private equity fazem a conta em dólar e veem oportunidades para comprar”, explicou. Ao mesmo tempo, o estrangeiro que pensa em vender sua operação no Brasil pode pensar duas vezes e adiar a operação.

 Europa vende mais e compra menos 

 Machado observou também que a situação externa influencia o mercado de fusões e aquisições. No ano passado, houve um aumento das vendas de empresas europeias para grupos brasileiros, devido às dificuldades da Europa.

 “Muitas companhias europeias, em meio às dificuldades em seus países, optaram por vender suas unidades no exterior, incluindo o Brasil”, diz. Os europeus também perderam participação nas compras de empresas brasileiras, sendo substituídos pelos americanos e pelos asiáticos.

 Setores mais movimentados 

 Para este ano, os setores mais movimentados em termos de fusões e aquisições devem continuar sendo TI e Telecom e Energia, como em 2013. Já Petróleo e Gás, que foi destaque no ano passado por conta do programa de desinvestimento da Petrobras, deve perder espaço. “A Petrobras concluiu o plano de desinvestimento e deve estar menos presente”, afirma.

 Outros setores, como Educação, Alimentos e Bebidas, Saúde e Farmacêutico, que foram muito animados no ano passado, devem continuar com muitos negócios este ano.

 “Não tanto em volume financeiro, mas em número de operações”, disse Ubiratan. O crescimento da renda e o aumento da classe C proporcionaram um forte crescimento das empresas desses setores, o que estimula agora operações para ganho de escala ou consolidação de mercado. Por Angelo Pavini | Leia mais em Exame 19/03/2014

20 março 2014



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