27 setembro 2013

A tacada da Takeda

À base de aquisições e de medicamentos populares, a farmacêutica japonesa se tornou um dos dez maiores laboratórios do Brasil em quatro anos. Conheça seus próximos passos

 Quando o Banco da Coreia publicou um estudo, em 2008, sobre as empresas mais antigas do mundo ainda em operação, revelou dois fatos curiosos. O primeiro é que, entre as empresas com mais de 100 anos de história, 89,4% eram pequenos negócios com menos de 300 funcionários, como cervejarias, vinícolas, hotéis e restaurantes. A outra curiosidade informava que, entre as 5.586 companhias bicentenárias do mundo, 3.146 estavam no Japão. A farmacêutica Takeda, ao ser uma das poucas das anciãs nipônicas que conseguiram crescer, se encaixa apenas no rol da tradição japonesa de preservação de empresas antigas.

 Fundada em 1781 na Osaka feudal, por Chobei Takeda, como uma espécie de trading de ervas medicinais, é hoje a maior empresa de medicamentos da Ásia, com faturamento anual de US$ 16 bilhões. Mas, apesar da longa trajetória, ela abriu seu escritório no Brasil apenas em 2009, com uma tímida operação formada por cinco executivos. Se deixasse de acompanhar sua evolução nesse exato momento e entrasse em contato com ela novamente só agora, em 2013, teria uma surpresa e tanto. A Takeda possui hoje no Brasil dois mil funcionários, vendas acima de R$ 800 milhões e uma posição entre os dez maiores laboratórios do mercado. “O grupo resolveu se expandir para fora da Ásia, nos anos 2000”, diz Ricardo Marek, presidente da Takeda no Brasil desde março deste ano.

 “Começou por Estados Unidos e Europa e, nos últimos anos, mostrou que tem ambição pelos grandes mercados emergentes.” Dessa forma, em apenas quatro anos, a operação no Brasil se tornou a quarta maior do grupo no mundo, superada por Rússia, Japão e EUA. A transformação em uma força dominante do mercado local, no entanto, não está finalizada. O desafio de Marek está em fazer a Takeda ocupar diversos espaços do mercado nacional, da mesma forma que conseguiram as europeias Sanofi-Aventis e Novartis e a americana Pfizer, os laboratórios multinacionais com presença local mais forte. Para conseguir isso, a Takeda precisará reforçar as vendas de produtos complexos vindos da matriz.

 “Estamos estreitando o relacionamento com os médicos para trazer ao Brasil o nosso portfólio para as áreas de oncologia e metabólicos, como os remédios para diabetes”, diz Marek. Essas categorias de medicamentos trazem maior rentabilidade do que as outras em que a japonesa já atua com força no Brasil. E isso se explica pela própria forma com que a empresa cresceu no País, por meio de aquisições. A rápida transformação da Takeda no Brasil começou há dois anos, com a incorporação das operações globais da suíça Nycomed, adquirida por US$ 14 bilhões. O bom posicionamento da empresa europeia, com remédios que não exigem prescrição médica (conhecidos pela sigla OTC) e gastroenterológicos nos países emergentes, justificou a aquisição de US$ 14 bilhões.

 O maior destaque é o remédio para dor de cabeça Neosaldina, o segundo mais vendido do mercado nacional em 2012, com R$ 204 milhões em receitas, no ano passado. Outras grandes marcas que faziam parte do catálogo da Nycomed são Dramin e Eparema, remédios contra enjoos e problemas digestivos, respectivamente. Em maio do ano passado, veio mais uma ousada tacada, com a compra da gaúcha Multilab, por R$ 540 milhões, que a colocou no mercado de genéricos, que já representa 27% do setor farmacêutico nacional. Para tirar mais benefícios da aquisição, Marek coloca em prática um programa de eficiência na fábrica da Porto Alegre, que pertencia à Multilab, inspirado na metodologia desenvolvida pela conterrânea Toyota.

 Com isso, o laboratório espera que a fábrica produza mais com custos menores. Dessa forma, ela poderá abastecer não só o mercado brasileiro, como também o restante do Mercosul. Já em termos de produtos, a principal estratégia está em tornar o Multigrip, herdado da Multilab, um dos maiores campeões de vendas do Brasil, assim como é a Neosaldina. “Por seu porte, a Takeda tem uma capacidade de fazer negócios e de investir em marketing que as brasileiras não possuem”, diz Lourival Stange, consultor da Produttare Consultores Associados. É uma das vantagens de ser um raro exemplar da multicentenária que também é uma gigante dos negócios no mundo atual. Por Carlos Eduardo VALIM
Fonte: Istoedinheiro 27/06/2013

27 setembro 2013



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