11 fevereiro 2013

Cheio de planos, BANUELOS esta de volta

Poucos investidores são cerca­dos de tanta controvérsia quan­to o espanhol Enrique Banuelos. Em meados da década passada, o bilionário número 854 nalista da Forbes levou sua incorporadora àbolsa e acabou se tornando sím­bolo do estouro da bolha imobi­liária da Espanha - onde ainda é considerado, por muitos, perso- na non grata. Há cerca de seis anos, desembarcou no Brasil em busca de uma segunda vida nos negócios.

 Sua primeira grande investida, no setor imobiliário, resultou na PDG, que hoje é uma das maio­res incorporadoras do País. O problema é que parou por aí. Em maio do ano passado, Banuelos desistiu do que seria seu grande projeto no agronegócio, a Van­guarda Agro, em meio a uma dis­puta com os sócios. Sua empresa de investimentos, a Veremonte, perdeu seus dois principais exe­cutivos e deixou a Faria Lima pa­ra se instalar em um escritório menos pomposo, na Avenida No­ve de Julho. Mas aos que acha­ram que suas ambições deste la­do do Atlântico haviam chegado ao fim, Banuelos rebate: “Disse que ficaria 40 anos no Brasil. Ain­da faltam 34”, diz.

 O principal alvo do espanhol é, novamente, o mercado imobiliá­rio. As empresas de capital aber­to no setor estão baratas e enfren­tam problemas financeiros e ope­racionais - o que, para ele, confi­gura o cenário ideal para uma no­va aposta. Banuelos tem conver­sado com os controladores das principais incorporadoras na bolsa e espera se tornar acionistare- levante de uma delas ainda neste ano. Desta vez, ele articula uma entrada consensual com os só­cios para não reviver os proble­mas encarados em 2012. 

Resistência.
O grande desafio do investidor será vencer a resis­tência do setor. Entre dezembro de 2008 e janeiro de 2011, Banue­los adquiriu três incorporadoras e as vendeu para a PDG, que se tornou, na época, a líder. Hoje, os maiores problemas operacio­nais da PDG estão exatamente neste grupo de empresas. “Banuelos é um investidor de curto prazo, e nisso ele é muito bom porque viu a oportunidade da consolidação”, diz um executi­vo que conviveu com o investi­dor. “Mas esse setor exige um olhar de longo prazo.

 Até que seus novos planos se concretizem, Banuelos tem toca­do proj et os independentes. A Ve­remonte Real State, braço da em­presa de investimentos, trabalha no desenvolvimento de escritó­rios e galpões. Até o fim de mar­ço, o grupo deve entregar o edifí­cio no Rio de Janeiro a ser ocupa­do pelo fundo de pensão Petros, de funcionários da Petrobrás. Em meados de 2012, a empresa terminou um prédio de escritó­rios em São Paulo para a fabricante de fragrâncias Symrise.

 Soma-se a esse negócio a de- senvolvedora de shopping cen- ters Fitout, cujo controle foi ad­quirido pela Veremonte no ano passado. Seu primeiro empreen­dimento deve começar a ser construído em abril, na cidade ca­tarinense de Itajaí. Como outros projetos de Banuelos, esse também tem ares superlativos. A ideia é trazer como sócios dois fundos locais, um estrangeiro e uma empresa americana de shop­ping centers.

 A profusão de projetos é carac­terística de Banuelos. No fim de 2010, o investidor planejava criar uma rede de clínicas de cirurgia plástica voltada para a classe C e trazer ao Brasil a companhia espa­nhola Natraceutical Group, fabri­cante de suplementos alimenta­res, mas nenhum dos negócios se concretizou. Segundo a Vere­monte, esses planos encontra­ram entraves regulatórios e aca­baram engavetados.

 Agora, há uma enxurrada de novas intenções além do setor imobiliário. No segmento agro­pecuário, o investidor pretende criar uma empresa para o descar­te de animais mortos aos moldes do sistema europeu. Na área de telecomunicações, ele pretende ampliar a operação da brasileira Medidata, empresa de sistemas de informação que passou a con­trolar no ano passado depois de adquirir 28% da espanhola Am- per. Segundo o Estado apurou, a Embraer tem interesse em ser só­cia no negócio. Procurada, abra­sileira não comentou o assunto.

 Derrota.
Até o início do ano pas­sado, o Brasil recebia a maior par­te dos investimentos da Vere­monte e as atenções de Banuelos estavam concentradas na Van­guarda Agro, empresa resultante da junção de três companhias. Ao articular as fusões, o investi­dor pretendia criar uma multina­cional brasileira de capital aber­to no setor de grãos, a exemplo das tradings Cargill e Bunge. Mas a relação tumultuada com os só­cios frustrou seus planos.

 O principal atrito foi a propos­ta de Banuelos para que as terras da empresa fossem alocadas em um fundo do qual a Veremonte seria gestora. Mas os sócios Sil­vio Tini, Otaviano Pivetta e os irmãos Hélio e Saio Seibel discor­daram da taxas de administração e de valorização de terras que se­riam cobradas e da participação de Banuelos nas duas pontas do O espasgou que co-de mercado sentido ser re­munerado depois de seus investi­mentos iniciais.

 Como não alcançaram um acordo, Banuelos se desfez de suas ações e deixou o negócio. “Ele é um visionário porque teve a ideia de criar a Vanguarda Agro”, diz uma pessoa próxima. “Mas muita gente discorda do seu jeito de fazer negócios.”

 De volta à Europa. Depois da briga, Banuelos voltou-se à Euro­pa e fechou dois grandes investi­mentos. Um deles é o Formula E, uma corrida de carros elétricos recém-criada pela Fédération In­ternationale de l Automobile (FIA). Os direitos comerciais do campeonato são de um consór­cio internacional, em que Banue­los é o principal investidor.

 O piloto brasileiro Lucas di Grasi tem participado das apre­sentações do evento, que come­çará em Londres, em 2014, e terá a final no Rio de Janeiro. Com carros fabricados pela McLaren, o evento tem sido apresentado como um incentivo à populariza­ção dos carros elétricos e à redu­ção nas emissões de carbono. “Estamos muito felizes de criar algo importante e ainda ganhar um dinheirinho”, diz Banuelos.

O outro empreendimento do investidor é o Barcelona World, um conglomerado com investi­mento inicial de US$ 6 bilhões, que terá parques temáticos, espa­ço para congressos e cassinos em Tarragona, cidade vizinha de Bar­celona. Essa história começou quando a empresa de resorts Las Vegas Sands escolheu Madri, em vez de Barcelona, para desenvol­ver uma espécie de Las Vegas na Europa. Em resposta, o governo da Catalunha acabou fechando um projeto alternativo com Banuelos e a La Caixa, um dos maiores bancos da Espanha.

 O BarcelonaWorld já foi anun­ciado oficialmente pelo governo da Catalunha, mas só começa a ser construído em janeiro de 2014, com início da operação pre­visto para daqui a dois anos. “Se tudo der certo, gostaria de fazer o mesmo no Brasil no futuro”, diz Banuelos. O investidor está de volta e continua o mesmo.  Melina Costa
Fonte: O Estado de São Paulo 11/02/2012

11 fevereiro 2013



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