07 maio 2012

Camargo revela como vai dividir ativos da Cimpor

Saída da Votorantim da cimenteira se dará em uma segunda etapa mediante troca de ativos

 A Camargo Corrêa detalhou ontem como pretende fazer a divisão de ativos da Cimpor com a Votorantim depois que tiver o controle acionário da cimenteira portuguesa. O ‘Estado’ já havia antecipado as informações no final de março. Com o comunicado divulgado ontem, o grupo brasileiro pretende acalmar os acionistas portugueses que temiam que a oferta pública de aquisição do controle da Cimpor feita pela Camargo fosse um passo para a desnacionalização da companhia .

 O documento enfatiza, entre outras coisas, que a marca portuguesa será mantida e que a sede da empresa continuará em Portugal. No dia 30 de março, a Camargo Corrêa – maior acionista individual da Cimpor, com uma participação de 33% – ofereceu € 5,50 por ação para ter os outros 67%, num total de € 2,48 bilhões. De antemão, o grupo brasileiro sabe que não desembolsará toda essa quantia porque a sócia Votorantim, segunda maior acionista da Cimpor com uma fatia de 21%, não venderá sua parte na oferta pública. A saída da Votorantim ocorrerá depois que a Camargo já tiver o controle da cimenteira portuguesa, mediante troca de ativos.

 Segundo o documento entregue ontem, em Portugal, à Cmissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), essa operação ocorrerá em duas etapas. Primeiro, a InterCement (fabricante de cimento controlada pela Camargo e detentora dos 33% da Cimpor) repassará à cimenteira portuguesa suas fábricas no Brasil, na Argentina, no Paraguai e em Angola. Em troca, a Cimpor repassa à InterCement suas unidades localizadas na China, Índia, Marrocos, Tunísia, Turquia, Peru e Espanha – exceto a Cim-por Inversiones e a Cimpor Sagesta. Todas essas fábricas, por sua vez, serão entregues à Votorantim pelas ações que ela detém na Cimpor.

 Ao justificar a oferta pelo controle da Cimpor, a Camargo Corrêa afirmou no comunicado que “na sequência das mudanças societárias ocorridas desde o final de 2009 até o início de 2010, a Cimpor continua a ter hoje uma base acionista fragmentada e sem coerência estratégica”. Ainda não há previsão para que a oferta pública se concretize e o grupo brasileiro assuma de vez o contro-le da cimenteira portuguesa. No documento entregue à CMVM, a Camargo “considera que existe uma probabilidade muito forte de a V otorantim Cimentos aceitar a proposta”. Mas é preciso ainda convencer os sócios portugueses. A C aixa Geral de Depósitos já anunciou que pretende vender a participação de 9,58%. O s outros grandes acionistas locais são o empresário Manuel Fino, com 10,7%, e o fundo de pensão dos funcionários do Banco Comercial Português, com 10%, que ainda não se manifestaram. Em nota, a Votorantim disse ontem que ainda não recebeu a proposta de oferta pública de aquisição do controle da Cimpor. A empresa disse que só vai se manifestar depois de ter acesso ao documento. A Votorantim também confirmou que não venderá suas ações na oferta.

 Acordo.
A divisão dos ativos da Cimpor entre as sócias brasileiras já era esperada. Por já ser a maior fabricante de cimento do Brasil, a Votorantim não poderia anexar as operações da Cimpor no País, sob o risco de aumentar a concentração no setor. Mas essa opção é aceitável para a Ca- margo, hoje a terceira maior dramo.

Por outro lado, as fábricas que a Cimpor tem espalhadas pelo mundo são tudo que a Votorantim precisa para acelerar sua internacionalização. A cimenteira portuguesa opera em 13 países de quatro continentes (Europa, Ásia, América do Sul e África). A costura do acordo entre Camargo e Votorantim foi feita com a máxima cautela, para evitar problemas com a legislação de defesa da concorrência. No fim de 2011, quando surgiram as primeiras informações sobre a negociação, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) impôs restrições.

 PARA LEMBRAR

 Rivais juntas contra a CSN
 A disputa brasileira pelo con-trole da Cimpor teve início em 18 de dezembro de 2009, quan-do a CSN anunciou uma ofer-ta de € 5,75 por ação pela em-presa, com o objetivo de conse-guir no mínimo 50% mais uma ação da empresa. O valor ofere-cido, porém, foi considerado baixo pelo conselho de admi-nistração da cimenteira, que recomendou aos acionistas que rejeitassem a oferta.

Depois disso, em janeiro de 2010, Corrêa e Votorantim entraram oficialmente na dis-puta pela companhia. Enquato a CSN, do empresário Benjamin Steinbruch , aumentava sua oferta e tentava convencer os acionistas a venderem suas ações, a Camargo Corrêa acumulou uma participação de 33% na empresa, enquanto a Votorantim ficou com 21%. No fim de 2011, a Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) do Ministério da Fazenda recomendou a aprovação, com restrições, dos acordos em que os dois grupos brasileiros se tornaram acionistas da Cimpor.

A preocupação do governo era de que o negócio reduzisse a concorrência no setor de cimento justamente quando o Brasil se prepara para sediar a Copa do Mundo e a Olimpíada. A condição recomendada pela Seae é que, nos lugares em que houvesse concentração de mercado acima de 20% por parte das companhias, elas teriam de vender seus ativos. No último dia 31 de março, a Camargo Corrêa fez uma oferta pública de aquisição do controle acionário da portuguesa Cimpor.

A segunda etapa dessa operação prevê justamente a saída da Votorantim Cimentos da Cimpor, levando ativos da cimenteira portuguesa fora do Brasil. Para isso, a Votorantim já anunciou que não vai aderir à oferta pública. Ela trocará suas ações por fábricas da Cimpor depois que a Camargo tiver o controle da companhia.
Fonte:O Estado de SP 07/05/2012

07 maio 2012



0 comentários: