10 maio 2012

BNDESPar faz menos diferença como sócio

Que o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro reduziu a necessidade de ter o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) como sócio é algo que já se intui desde que as ofertas de ações foram retomadas no país em meados da década passada. Um estudo finalizado por pesquisadores do Insper sugere, no entanto, que não só a necessidade, mas também a vantagem de ter o banco de fomento como sócio se diluiu.

 A pesquisa, que analisou as empresas que integram a carteira da BNDESPar - braço de participações do banco - entre 1995 e 2009, concluiu que no primeiro período analisado, até 2002, as companhias que possuíam a BNDESPar como sócia tinham desempenho, medido pelo Retorno sobre Ativos (ROA, calculado com a divisão do lucro pelo ativo), superior às demais. Mas no período de 2003 a 2009, essa vantagem não se sustentou.

 Para o autor Carlos Inoue e seu orientador, professor Sérgio Lazzarini, entre todas as hipóteses testadas para entender o motivo da diferença de resultados nos dois períodos distintos, a única que se sustentou foi a maior maturidade do mercado. "A única hipótese que sobrevive é a de que as empresas em geral passaram a ter mais capacidade de capitalização", diz Lazzarini. "Provavelmente o desenvolvimento do mercado brasileiro reduziu o efeito da presença do banco sobre os resultados das empresas", completa Inoue.

 Ou seja, com mais oportunidades de acesso a outras fontes de recursos, como as ofertas públicas de ações na BM&FBovespa e fundos investimento em participação, as empresas puderam investir e ter melhores desempenhos mesmo sem o apoio da BNDESPar, que tinha na sua origem, entre outras funções, a de fomentar o mercado de capitais local. Além disso, a evolução no cumprimento de regras de governança também parecem ter minimizado o peso do banco de fomento.

 "A associação entre empresas e governo pode facilitar a obtenção de recursos essenciais quando existem imperfeições no mercado financeiro. À medida que este se desenvolve, essa estratégia por si só não garante um melhor desempenho às empresas", escrevem os pesquisadores nas conclusões do trabalho.

 O estudo acadêmico usou como base dados referentes a 293 empresas não financeiras do mercado brasileiro. Foram então criados dois grupos: o primeiro das empresas que possuíam participação societária direta ou indireta da BNDESPar e o segundo das demais companhias.

 Os pesquisadores usaram modelos para comparar então se havia diferença entre os dois grupos tanto em termos de resultado das operações, como também em valor de mercado.

 Após diversos testes de relevância estatística, o estudo concluiu que, entre 1995 e 2002, as empresas que tinham a BNDESPar como sócia obtiveram retorno sobre ativo 5,2% acima da média das demais companhias. E essa vantagem foi maior para empresas que não faziam parte de grupos econômicos. No aspecto de valorização de mercado, não houve diferença relevante.

 No período seguinte, de 2003 a 2009, a vantagem em termos de ROA deixou de existir e, novamente, não foi detectado prêmio nem desconto nas ações pelo fato de se ter a BNDESPar como sócio.

 Em nenhum dos casos foi avaliado o impacto de empréstimos feito pelo banco. Mas o estudo também mediu o nível investimentos, de endividamento e custo da dívida entre os dois diferentes grupos. Não foram identificadas diferenças relevantes nesses indicadores, com exceção de uma. No primeiro período de 1995 a 2002, as empresas que tinham o banco estatal como sócio aumentaram mais os investimentos fixos do que as demais.

 "Aparentemente, o maior nível de investimento está determinando o melhor desempenho das empresas investidas pelo BNDES no período", diz o estudo.

 Segundo o trabalho, o resultado parece corroborar a proposição de que a participação do banco de desenvolvimento minimiza as restrições de crédito e assegura o investimento em projetos rentáveis. Mais uma vez, no entanto, no intervalo entre 2003 e 2009 a diferença entre as empresas com e sem BNDESPar deixou de existir no quesito alta de investimento.

 Os pesquisadores também testaram a hipótese de a BNDESPar atuar como "hospital" de empresa com dificuldades financeiras, mas concluíram que apesar de haver casos isolados, isso está longe de ser regra. Pelo contrário, nos últimos anos, foi possível identificar que o banco estatal passou a ser sócio de empresas maiores e que tinham apresentado desempenho passado acima da média do mercado, na linha da tese de formação das "campeãs nacionais". Inoue alerta, no entanto, que isso não significou que, depois da injeção de capital, a empresa tenha ficado ainda melhor do que já era.

 "Está mais difícil a BNDESPar fazer diferença para as empresas, como foi no passado com Aracruz, Embraer. Para ela conseguir isso, seja em termos de lucratividade ou socialmente, precisa ter muito critério", afirma Lazzarini.

 Segundo o professor, o banco deveria colocar mais foco em empresas que tem necessidade de capitalização e dar transparência para os critérios de seleção.

 Ele diz ainda que os empresários locais estão habituados a contar com o BNDES como sócio em seus projetos. E lembrou do caso recente envolvendo a tentativa de fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour. "O Abilio Diniz comentou depois que o maior erro dele foi entrar com BNDESPar [o que casou reação negativa]. Ele não precisava desse recurso oficial. Dava para pegar com fundos privados.

" Procurado, o BNDES não quis abordar os aspectos específicos do estudo. Em nota, a instituição disse que a empresa de participações cumpre seu papel o apoio a "empresas brasileiras no seu processo de internacionalização e inovação, apoio a setores estratégicos para o país, fortalecimento do mercado de capitais e indução de boas práticas de governança e sustentabilidade". Por Fernando Torres e Catherine Vieira Fonte:
Valor Econômico 10/05/2012

10 maio 2012



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