08 maio 2012

Animale e Farm mudam estratégia para holding

Unidos em duas marcas fortes, Animale e Farm, os empresários de moda Roberto Jatahy e Marcello Bastos planejam ser donos de uma ampla rede de marcas criadas a partir das duas originais que já vêm, aos poucos, começando a ser lançadas no mercado. Os planos são ousados. A proposta é de cada marca vir a ter, num prazo de cinco anos, cerca de 100 lojas em todo o país. "Decidimos crescer organicamente," diz Jatahy, fundador da Animale, que se associou a Bastos, da Farm, em 2010. Para 2012, estão previstos investimentos de R$ 70 milhões. Tudo com dinheiro próprio.

 O projeto de construir uma holding já existia, porém com aquisições. Mas Jatahy e Bastos mudaram de rumo depois de desfazer a compra da Ausländer, há quatro meses. Em janeiro do ano passado, a dupla adquiriu 80% do capital da marca de roupa jovem criada por Ricardo Bräutigam, com três pontos de venda no Rio. "Para crescer, era necessário um investimento muito grande e com o tempo, descobrimos que o Ricardo tinha objetivos diferentes do nosso", explica Jatahy. Os dois então venderam a marca de volta para seu criador. "Não queríamos brigas internas. Fizemos um negócio justo e mantivemos a amizade".

 Ricardo Bräutigam, conhecido no setor como Cadinho, diz que "houve discordâncias em um pouco de tudo. Eles queriam realmente expandir a grife de uma forma mais rápida e, para isso, mudar o conceito da marca", conta. "Mas isso eu não concordava, porque fui eu quem desenvolvi este conceito em que ainda acredito. Já vendi na Daslu, participo de showroom no Japão, é uma marca bem aceita", acrescenta. "Mas nós fizemos um ótimo acordo. Eles me deram uma estrutura que eu não tinha." Agora ele tem como sócio Filipe Simão, dono da Toulon, de moda masculina.

 A nova holding de marcas ainda não foi batizada, mas já tem pelo menos três filhos, a marca infantil Fábula, a varejista de roupas femininas premium A-Brand e a marca jovem Fyi. Estão saindo da gaveta grifes de lingerie, de moda praia e ainda de joias.

 "A empresa tem que estar sempre crescendo. Parar é desanimador para todo mundo. Mas toda marca tem um potencial de crescimento e, quando chegamos no limite, criamos novas linha dentro da loja para abrir oportunidades de novos negócios", afirma Jatahy.

 Ele e Bastos não gostam de falar de faturamento. Mas o Valor apurou que juntas, Farm e Animale já faturam por ano cerca de R$ 360 milhões. Os novos projetos são por enquanto pagos com investimento da própria empresa, mas a dupla vem conversando com investidores. "Se conseguirmos um investidor, isso aceleraria o projeto", diz Jatahy.

 Segundo o empresário, a expansão da Animale, que está atingindo 70 pontos de venda, já chegou ao limite. O grupo então está utilizando a rede de distribuição para inventar produtos que podem, futuramente, virar novas marcas.

 Para isso, o tamanho das lojas está crescendo. "Em 2008, os pontos tinham em média 120 m2, hoje já são 150 m2 e nosso objetivo é chegar a 200 m2 ", conta o empresário. Com isso, além das roupas para as clientes entre 25 e 45 anos, das classes A e B, as mulheres começam a encontrar nas lojas uma linha de lingerie, outra de moda praia e ainda uma linha de joias. "Todas têm potencial para virar marcas isoladas." 

Foi assim que ocorreu com a A-Brand, uma linha de produtos premium que teve duas coleções lançadas em 2009. Enquanto o preço médio da Animale é de R$ 380, a da A-Brand, é de R$ 500. A marca fez sucesso e agora, além de ainda ser vendida dentro das lojas da Animale, já ganhou três pontos próprios: no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo; no Rio Design Leblon, no Rio; e o terceiro no Pátio Savassi, em Belo Horizonte.

 A mais nova iniciativa dos empresários é a marca jovem Fyi, lançada em outubro. Com preço médio de R$ 180, a primeira loja foi aberta no Rio Design Leblon. Mas, até 2015, o objetivo é chegar a 100 pontos de vendas próprios. "Hoje, ter 100 lojas é um objetivo bom. Mais do que isso é exagero para uma marca", diz Jatahy. "Depois disso, partimos para um novo produto de expansão do grupo.

" A única rede do grupo que não crescerá pelos próprios meios da empresa é a Fábula, marca infantil criada por Marcello e Kika Bastos. Hoje com quatro lojas, uma em São Paulo e três no Rio, o grupo planeja chegar a 50 pontos no Brasil em um ano por meio de franquias. "É uma marca que não depende tanto de moda, de sazonalidade, por ser voltada para crianças", diz Bastos. "Por isso, podemos entregar as vendas para parceiros".

 Bastos conta que já há hoje demanda para abrir 100 franquias. No entanto, eles estão montando um plano em que a própria rede é quem vai negociar o ponto nos shoppings para evitar escolhas erradas e custos muito altos. "É diferente a negociação com as administradoras quando somos nós quem fechamos o contrato", afirma. A franquia deve custar entre R$ 300 e R$ 320 mil, além do custo de instalação da loja, entre R$ 90 mil e R$ 100 mil. ~

Aposta na internet e em lojas multimarcas 

 Enquanto ajuda a criar novas grifes, Marcello Bastos aposta agora na expansão das vendas da Farm por meio da internet e do mercado multimarcas, em vez da abertura de lojas próprias.

 Desde 2010, a grife de moda feminina vem abrindo 10 lojas por ano, atingindo agora 43 filiais. Seu faturamento dobrou a cada ano e chegou a R$ 265 milhões no ano passado, segundo o Valor apurou.

 Mas esse ritmo vai mudar com o novo foco. Este ano serão inauguradas quatro lojas: no Rio, em Recife, em Cuiabá e em Salvador.

 A loja da internet estreou em 2010 e atualmente vende 2,5 vezes mais que a unidade física de maior faturamento da rede, a de Ipanema, no Rio. Bastos espera que, em três anos, seu comércio on-line chegue a vender o que todas as 43 lojas faturam hoje juntas. Segundo ele, 27 mil pessoas visitam o site todos os dias.

 O empresário explica que desde a criação da marca, em 1999, com a inauguração da primeira loja em Copacabana, ele e sua irmã Kika Bastos estiveram sempre focados na expansão de sua própria rede. Hoje a grife tem unidades em 16 Estados.

 Segundo o empresário, vender para multimarcas causa uma revolução dentro da empresa. "Hoje o calendário já é antecipado. A gente apresenta a coleção de inverno em janeiro, mas para poder chegar às multimarcas a tempo de produzir sua demanda, é preciso antecipar mais um mês e meio", conta. Hoje são fabricadas por coleção 40 mil peças, das quais 70% são produzidas na fábrica de São Cristóvão, na Zona Norte do Rio de Janeiro. "Todas são criadas por nós", faz questão de lembrar o empresário.

 A Farm é uma rede de roupas femininas voltada para a mulher universitária ou recém-formada, das classes A e B. Segundo Bastos, 53% das vendas, cujo tíquete médio é de R$ 300, está neste público. "Apesar de sabermos que atingimos mulheres mais velhas, não mudamos o foco.

" Além da linha de roupas, a empresa também produz estampas em parceira com a e rede de tecidos JRJ. E agora o grupo começa a produzir estampas para produtos eletroeletrônicos. O empresário ainda não revela a indústria parceira, mas conta que já foram 10 tipos de aparelhos selecionados. (PM e HM) Por Paola de Moura e Heloisa Magalhães
Fonte: Valor Econômico 08/05/2012

08 maio 2012



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