23 abril 2012

Na classe C, 25,5 milhões querem abrir seu negócio

A nova classe média brasileira forma um público consumidor que alcança hoje um poder de compras superior a R$ 1 trilhão, a maior parte gasta em alimentos. Essa parcela da população traz tremendas oportunidades de negócios para o desenvolvimento do empreendedorismo, informa Renato Meirelles, sócio-diretor do Instituto Data Popular, consultoria voltada para as camadas de baixa renda. "É um consumo gigantesco, voltado principalmente para a aquisição de serviços", diz o consultor. Segundo uma pesquisa realizada neste ano pelo instituto, de cada R$ 100 gastos por essa população, pelo menos R$ 65,20 são desembolsados para a contratação de serviços e R$ 34,80 para a compra de bens. "Isso abre grandes oportunidades para investimentos em empreendimentos no setor de serviços", destaca.

Os próprios emergentes que subiram um degrau na pirâmide e passaram a compor a classe média podem ser futuros empreendedores, ensina Meirelles. O estudo do Data Popular mostra que seis em cada dez pessoas da classe C querem abrir a própria empresa em algum momento da vida. São 25,5 milhões de brasileiros com planos de abrir seu próprio negócio, a maior parte no Norte e Nordeste.

"O emprego formal nos trouxe até aqui, mas é o empreendedorismo que vai nos levar adiante. A carteira assinada e o concurso público deixam de ser vistos como fim. A classe C os vê como trampolim para chegar ao ponto de abrir o próprio negócio", reforça o consultor. Mas, segundo a pesquisa, apenas um terço dos futuros empreendedores admite estar preparado; a grande maioria das pessoas que desejam empreender indica não ter muito conhecimento para isso. "É um campo de oportunidades para a ação de entidades como o Sebrae ", comenta.

Estudos da consultoria revelam que, entre 2002 e 2011 a classe C ganhou 31 milhões de pessoas, cresceu 38% e engordou sua renda em nada menos do que 62%. Hoje, são mais de 103 milhões de brasileiros que contam com renda e crédito da ordem de R$ 1,3 trilhão, o equivalente a 53% da população. Até 2014, serão 60%. No comando do novo grupo de ávidos consumidores estão 52,9 milhões de mulheres mais informadas, com grau de escolaridade superior ao dos homens e com poder de decisão incontestável. Afinal, juntas, elas devem somar uma massa de rendimentos da ordem de R$ 333,3 bilhões neste ano. "Elas trazem mais dinheiro para casa do que as colegas da classe A, pois respondem por 41% da renda familiar. As mulheres do topo da pirâmide contribuem com apenas 25% da renda", afirma Meirelles, responsável pela pesquisa As Poderosas da Nova Classe Média Brasileira.

Além disso, é o novo exército do batom que responde por 70% das compras da casa e incluiu em sua lista de prioridades alguns itens de beleza, de informática e até eletrodomésticos que facilitem a sua vida. Em 2010, gastaram com produtos para o corpo, cabelo e rosto cerca de R$ 19,7 bilhões, contra R$ 6 bilhões no início da década. "Atualmente, 56% dos perfumes importados, com tíquete médio de R$ 300, são comprados por essas mulheres", enfatiza Meirelles. "Mas isso não significa que elas esbanjem dinheiro. Pelo contrário, 71% afirmam planejar antes de ir às compras, além de criar o próprio crédito para as chamadas indulgências." Ou seja, poupam para pagar à vista e preferem poucas prestações, reservando o grosso do carnê para itens mais caros como carro e viagens, por exemplo.

O perfil do carrinho do supermercado também não é mais o mesmo. A classe C aprecia produtos com mais proteínas, vitaminas, qualidade e que façam bem para a saúde. Não precisa ser necessariamente diet e light, é essencial que faça bem. Entre um alimento congelado e um semi-pronto, preferem o segundo, que permite dar um toque de tempero pessoal ao prato. E, ao contrário de outros tempos, quanto mais prático melhor.

"É importante salientar que elas buscam tanto na alimentação quanto nos produtos para higiene, beleza, limpeza e no guarda-roupa marcas boas e de qualidade, mas com o jeito delas", afirma Meirelles. E o que isso quer dizer? Que as mulheres da classe C adotam as marcas líderes porque sabem que não perdem dinheiro pela eficiência já constatada; querem usar as roupas da moda, mas não abrem mão das cores, da estampa e dos modelos mais justos.

De olho no público que passou a estudar mais, tem dinheiro no bolso e quer viajar de avião pela primeira vez, o empreendedor Thomas Rabe, 49 anos, abriu em São Paulo, em 2009, a Vai Voando, primeira empresa a trazer para o mercado de transporte aéreo o sistema pré-pago. A compra não exige comprovação de renda, fiador ou consulta de proteção ao crédito. "É o cliente que diz quando quer viajar e até a data do embarque pode parcelar a passagem, que é paga por meio de boletos, um sistema com o qual esse público está bem familiarizado", diz Habe. "Assim, não há inadimplência."

A média de embarque é de 2 mil passageiros por mês, principalmente para o Nordeste. São pagos em média em três parcelas. Segundo o empreendedor, 100% dos pontos de venda da Vai Voando, que espera faturar neste ano R$ 20 milhões, estão localizados na periferia de São Paulo e Rio de Janeiro. Nos próximos 60 dias, a agência deverá incrementar o serviço de venda de passagens de ônibus e de hotéis selecionados para esse perfil socioeconômico. "Até o próximo ano estaremos vendendo também pacotes de viagens", adianta.
Fonte:valor 23/04/2012

23 abril 2012



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