16 abril 2012

Mercado espera reviravolta no desempenho

Depois de entregar resultados abaixo de estimativas numa temporada de balanços que trouxe problemas como novos estouros de orçamento, o setor de incorporação tem uma ano de provações pela frente. Em 2012, será preciso recuperar a parcela da confiança dos investidores abalada com as surpresas negativas dos resultados do quarto trimestre do ano passado divulgados recentemente. A reversão da imagem atual do setor dependerá da melhora tanto do desempenho das empresas quanto da comunicação com o mercado.

A piora da qualidade da informação é uma das principais críticas feitas a essa temporada de balanços. " PDG divulgou o balanço depois da data, e a abertura de informações pela Cyrela piorou", exemplifica o analista de construção civil do BES, Eduardo Silveira. Chamou a atenção também, segundo outro analista, a Rossi Residencial não ter informado, no release de resultados, o impacto, no lucro, da venda de terrenos pela Sociedade de Propósito Específico (SPE) Alcea Empreendimentos Imobiliários. A conclusão da venda de terrenos pela Alcea, no quarto trimestre, foi citada nas demonstrações financeiras anuais completas.

"A contabilidade do setor é difícil, então as empresas precisam ser o mais transparente possível", diz um profissional do mercado que pediu para não ser identificado. A própria validade da forma de a receita ser contabilizada no setor - à medida que as obras avançam e conforme o custo orçado - voltou a ser questionada diante da nova leva de anúncios de estouros de orçamento. No formato de contabilidade utilizado, o POC (percentage of completion), quando o custo real supera o estimado, é registrada receita acima da obtida de fato naqueles trimestres em que se projetou orçamento menor.

Fizeram parte da nova rodada de revisões de orçamento Gafisa, Tecnisa, Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário (CCDI), Viver e PDG. A revisão de maior proporção foi a da Gafisa, mas foram os estouros da PDG os que mais surpreenderam o mercado.

Além dos impactos financeiros dos desvios de custo, a nova rodada de revisões deixou claro que a questão ainda não foi equacionada, gerando dúvidas se outros anúncios podem ser feitos nos próximos trimestres.

"Fica a sensação de que todo mundo tem problemas de estouros", diz Silveira, do BES. Já o analista do setor imobiliário da Banif Corretora, Flávio Conde, afirma que as empresas aprenderam o que precisa ser feito para evitar novos estouros. "A tendência é que o problema diminua, mas não sei quando teremos um trimestre sem ajustes", diz Conde.

Uma das consequências dos estouros é a redução das margens das empresas. Boa parte das incorporadoras ainda tem sua rentabilidade pressionada por projetos das safras antigas, de 2007 e 2008. O setor espera uma melhora das margens à medida que esses projetos menos rentáveis forem entregues. E parcela expressiva desses empreendimentos ficará pronta em 2012.

Na avaliação do analista de construção civil do Credit Suisse, Guilherme Rocha, um grande desafio em 2012 para incorporadoras e bancos é justamente o grande volume previsto de entregas de empreendimentos. A maioria do setor espera gerar caixa operacional neste ano em função dessas entregas, da expectativa de repasses dos clientes para os bancos e de o crescimento ter deixado de ser prioridade. "Nos nossos modelos, trabalhamos com geração de caixa no segundo semestre para a maioria das empresas e melhora de margens ao longo do ano", afirma Rocha.

A entrega dos empreendimentos lançados em 2007 e 2008 marca a conclusão do primeiro ciclo do setor após a onda de aberturas de capital. Após um período de forte crescimento, resultante da combinação de fatores como capitalização pelo mercado de capitais, oferta de crédito e demanda reprimida por imóveis, as empresas tem voltado suas atenções para a aprimorar a execução das obras, com o controles de custos mais rigorosos e a redução da terceirização.

Em muitos casos, a chamada "arrumação da casa" significa redução de metas de lançamentos, parte delas anunciada durante a temporada dos balanços.

A PDG divulgou que estima lançar de R$ 8 bilhões a R$ 9 bilhões, abaixo da projeção anterior (R$ 9 bilhões a R$ 11 bilhões), em que a companhia já considerava a possibilidade de cumprir o piso da meta.

A Gafisa vai encolher de tamanho pelo segundo ano consecutivo. A companhia prevê lançar de R$ 2,7 bilhões a R$ 3,3 bilhões, com ponto médio 14% menor que os R$ 3,5 bilhões do ano passado. No primeiro trimestre, os lançamentos tiveram redução de 10% ante o mesmo período de 2011, para R$ 464 milhões, o correspondente a 15% da projeção média para o ano. Já as vendas contratadas caíram pela metade no trimestre para R$ 408,2 milhões. Por Chiara Quintão
Fonte:Valor 16/04/2012

16 abril 2012



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