02 março 2012

BTG fará oferta de ação no Brasil e no exterior

O BTG Pactual deu ontem a partida para sua aguardada oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês). A instituição entrou com pedido para realizar uma emissão de "units" - certificados que representarão ações do banco no país e do braço de participações da instituição no exterior. O IPO deve movimentar de US$ 1 bilhão a US$ 1,5 bilhão e deve avaliar a instituição como um todo entre US$ 13 bilhões e US$ 15 bilhões, conforme apurou o Valor.

O banqueiro André Esteves, que acumula os cargos de presidente do conselho de administração e diretor presidente do BTG, seguirá no controle da instituição, com ações que lhe dão poderes especiais em relação aos demais acionistas, dentro de uma complexa estrutura de capital.

As informações contidas no prospecto preliminar da oferta permitiram ver que o Pactual optou por trilhar um caminho distinto do Goldman Sachs. O banco americano, precursor do modelo de "partnership" (sociedade entre os executivos), extinguiu o mecanismo ao abrir seu capital. Os sócios na ocasião encheram o bolso de dinheiro com o IPO, mas acabaram com o sonho de se tornar sócios dos mais jovens. O Pactual preservará o modelo ao segregar a distribuição de ações da sociedade em outra empresa, que não abrirá seu capital, exercerá o controle do banco e só terá seus papéis transacionados entre sócios pelo valor patrimonial.

As atividades do BTG hoje estão divididas em dois blocos, de acordo com os documentos encaminhados à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O primeiro é o banco com sede no Brasil, que concentra as atividades de banco de investimento, gestão de recursos e tesouraria local. Os demais investimentos proprietários da instituição, incluindo as participações em empresas (private equity) e investimento em fundos líquidos no exterior, estão reunidos em uma segunda companhia, chamada BTGI, que possui sede nas Bahamas. As participações acionárias de ambos é espelhada. O banco manteve essa estrutura separada por questões fiscais.

Na oferta, o banco emitirá units, certificados que representam ações do banco no país e também recibos de ações (BDR, na sigla em inglês) da BTG Pactual Participations, holding que será listada na Euronext Amsterdam e que controla a BTGI. A minuta preliminar do IPO não informa a quantidade de ações que darão lastro às units. O BTG pretende realizar uma operação primária, com a emissão de novas ações, e secundária, com a venda de papéis que pertencem aos atuais acionistas.

Apenas os sócios estrangeiros do BTG, incluindo fundos soberanos da China e de Cingapura, que em 2010 compraram uma participação de 18% da instituição por US$ 1,8 bilhão, participarão da oferta secundária. O banco tem a obrigação contratual de permitir a esses sócios estrangeiros que vendam até 30% de sua fatia no caso de uma abertura de capital. Mas, segundo apurou o Valor, há pouco apetite para venda. No prospecto, são identificados apenas dois acionistas vendedores: a Marais, empresa com sede Delaware (EUA), e a Europa Lux, de Luxemburgo. Juntas, as companhias detêm 4,6% do BTG no Brasil e 0,34% da holding no exterior.

Com os recursos captados dos investidores, o BTG pretende reforçar o capital no Brasil e melhorar a estrutura de funding. O banco fechou o ano passado com um índice de Basileia de 17,7%, acima do mínimo de 11% requerido atualmente pelo Banco Central, mas as mudanças nas normas internacionais previstas para o ano que vem devem reduzir esse índice. Fora do país, a BTG Participations investirá na BTGI, que pretende utilizar os recursos em oportunidades de investimento tanto em bolsa quanto em private equity.

Independentemente do resultado do IPO, Esteves seguirá com plenos poderes no banco. O executivo é o principal acionista da BTG Pactual Holdings, que controlará a empresa listada na BM&FBovespa. No exterior, a BTG Participations contará com uma "golden share", ação com poder de controlar as decisões mais relevantes da companhia, que também está nas mãos de uma companhia detida por Esteves.

A instituição possui hoje 163 sócios entre os executivos, que hoje detêm 84% do capital. O modelo permite que o banco tenha o direito de comprar, a qualquer tempo e por qualquer razão, a participação de qualquer um dos sócios e depois a revenda para outros, sempre pelo valor contábil das ações. Os papéis dos sócios da partnership também possuem uma série de restrições para venda no mercado ou a terceiros.

Além de Esteves, o banco possui um grupo chamado de "top seven partners", que inclui Marcelo Kalim, Roberto Sallouti, Persio Arida, Antonio Carlos Canto Porto Filho, Emmanuel Rose Hermann, James Marcos de Oliveira e Renato Monteiro dos Santos.

Os atuais acionistas do BTG terão prioridade na compra de 30% das units na oferta. A expectativa, porém, é que o grupo controlador do banco acabe cedendo esse direito para investidores estratégicos do exterior, talvez atraindo outros fundos soberanos. O púbico de varejo ficará com um percentual entre 10% e 15% das units. Desse total, 3% será alocado prioritariamente entre funcionários.

Junto com os documentos preliminares do IPO, a instituição forneceu informações contábeis conforme os padrões brasileiros (BR Gaap). Em 2011, o Grupo BTG Pactual registrou lucro de R$ 1,921 bilhão, o que representa um crescimento de 70,5% em relação ao mesmo período do ano anterior. Já a rentabilidade sobre o patrimônio líquido médio caiu de de 27,5% em 2010 para 24,2% no ano passado. O banco encerrou o ano passado com patrimônio líquido de R$ 8,5 bilhões, um aumento de 16,2%.Por Vinícius Pinheiro e Vanessa Adachi
Fonte:ValorEconômico02/03/2012

02 março 2012



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