15 fevereiro 2012

Crise externa pode atrasar chegada ao Brasil de rivais para a BM&FBovespa

Mercado financeiro. No ano passado, duas bolsas americanas anunciaram que iriam começar a operar no Brasil, mas uma delas já admite que início dos trabalhos pode ser adiado e outra informou nunca ter se comprometido com uma data no PaísAs turbulências na economia internacional podem ter reflexo direto no cenário de competição das bolsas de valores no Brasil. William O"Brien, presidente da americana Direct Edge, que no ano passado anunciou planos de abrir uma bolsa no Brasil, admitiu estar cauteloso em relação ao cronograma previsto para o início das operações no País, por conta do cenário externo.

"Nós ainda temos como meta o quarto trimestre de 2012, mas há muitos fatores externos que irão definir a data final. Estamos fazendo de modo a não introduzir nenhum risco adicional ao mercado brasileiro e estaremos bem conscientes dos nossos princípios quando anunciarmos a data de abertura, seja no quarto trimestre de 2012 ou primeiro trimestre de 2013", disse O"Brien, em entrevista à Agência Estado.

E a Direct Edge não é a única a adotar maior cautela em seus projetos de vinda ao Brasil. A BATS, a terceira maior bolsa dos EUA e concorrente da Direct Edge, anunciou no início do ano passado seus planos de entrar no mercado brasileiro, e já tinha até um nome para a nova bolsa: BATS Brasil. Embora a empresa não tenha dado prazos, havia uma expectativa no mercado de que isso pudesse ocorrer num futuro mais próximo, ainda em 2011 ou início de 2012. Mas, desde então, a empresa não falou mais sobre o assunto e não se sabe quando a BATS Brasil poderá se tornar realidade.

Procurada pela Agência Estado, a empresa disse que está em período de silêncio por causa do processo de oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) nos Estados Unidos e não poderia fazer comentários. Mas a empresa fez questão de deixar claro que nunca se comprometeu com uma data e que sempre disse que estava "explorando" as oportunidades no Brasil.

Competição. Para o presidente da Direct Edge, mais do que datas, o importante é que a tendência é de aumento da competição do mercado de ações no Brasil e o fato de que a companhia mira o longo prazo. "A Direct Edge quer ter papel de destaque nessa competição. Mas sempre existe a possibilidade de atrasos. Certamente não seremos agressivos com nosso cronograma, pois isso poderia impor riscos ao mercado brasileiro."

No momento, a Direct Edge aguarda a conclusão, prevista para abril, de um estudo conduzido pela consultoria Oxera, com sede em Londres, à pedido da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para avaliar a competitividade e eficiência do mercado de capitais no Brasil. "Assim que os estudos estiverem prontos, o nosso próximo passo será formalmente encaminhar o pedido à CVM e apresentar nosso plano de infraestrutura e tecnologia", explicou o executivo.

A Direct Edge pretende entrar no mercado brasileiro para competir com a BM&FBovespa, que fica em São Paulo. A bolsa funcionará no Rio de Janeiro, como uma empresa independente local operada pela Direct Edge.

Nos EUA, a bolsa americana movimenta entre US$ 20 bilhões e US$ 28 bilhões por dia em pedidos de compra e venda de ações. "É bem mais do que a Bovespa movimenta hoje", diz O"Brien. Na segunda-feira, o volume negociado na BM&FBovespa ficou em R$ 13,18 bilhões, ou ao redor de US$ 7,5 bilhões, inflado pelo exercício de opções sobre ações, que totalizou R$ 6,3 bilhões.

O"Brien, no entanto, faz questão de ressaltar, que a empresa não tem intenção de ter um início de operações agressivo no País e evita fazer estimativas de quanto poderá movimentar na sede do Rio de Janeiro. "Temos muita consciência da importância histórica que a Bovespa tem e não fazemos projeções sobre que fatia de mercado poderemos ocupar", disse.

Segundo ele, a intenção da Direct Edge é ter um início "modesto" no Brasil e crescer, gradualmente, no longo prazo. "Nossa preocupação maior é com o cliente, e não com os competidores. Queremos ser reconhecidos por ter uma tecnologia superior, de inovação e de possibilitar negócios com o menor risco operacional possível", disse.

Para O"Brien, o Brasil caminha na direção certa em suas políticas fiscal e monetária e tem perspectivas muito promissoras quando se olha num prazo mais longo, como 2020 ou 2030. "Estou bem impressionado o Banco Central e governo brasileiros que não têm medo agir", disse.

O executivo disse que existe um "equilíbrio prudente" nas ações que têm sido tomadas pelo BC e governo, como os cortes de juros pelo BC ou a eliminação do Imposto sobre Operação Financeira (IOF) do mercado de ações, "que foi algo muito bom".

A Direct Edge é hoje a quarta maior bolsa dos EUA, com sede na cidade de Jersey, no Estado de Nova Jersey. A companhia é administrada por um consórcio que inclui International Securities Exchange, Knight Capital Group, Citadel Derivatives Group, Goldman Sachs Group e o JP Morgan. Por LUCIANA ANTONELLO XAVIER
Fonte:OEstadodeSP15/02/2012

15 fevereiro 2012



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