12 novembro 2011

O maquinista bilionário da GE

O brasileiro Reinaldo Garcia dispõe de um volume inédito de recursos para investir em aquisições, modernização e ampliação das operações da empresa no País.

Por Carlos Eduardo VALIM

Os defensores da gestão controvertida de Jeffrey Immelt, CEO da americana General Electric nos últimos dez anos, na comparação constante que sofre com o lendário Jack Welch, costumam dizer que seu antecessor era um cara de sorte. Welch liderou a empresa em um ambiente de negócios favorável, entre 1981 e 2001, principalmente nos países desenvolvidos.

O executivo passou o bastão à Immelt quatro dias antes dos ataques de 11 de setembro de 2001, para dedicar-se a palestras e à consultoria empresarial. Desde então, este último comanda por rotas difíceis a gigante industrial, dona de um faturamento anual de de US$ 150 bilhões e valor de mercado de US$ 173 bilhões. Nesse perío-do, aconteceram duas grandes crises econômicas que afetaram os mercados americano e europeu, fizeram as ações da empresa desabar 60% e causaram a perda do rating de triple A.

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Reinaldo Garcia: o CEO da GE para a América Latina vai ampliar o número de funcionários
no Brasil de 6,5 mil para 9,5 mil até o fim de 2012

O brasileiro Reinaldo Garcia, que comanda a operação da GE na América Latina desde o começo do ano, pode ser também considerado um cara de sorte como Welch.

De sua sala com vista para a pista do Jockey Club de São Paulo, o próprio Garcia se sente um pé-quente. Não é para menos. Todas as áreas de negócios da GE na região, que atua em saúde, aviação, energia, transporte, óleo e gás e iluminação, cresceram em ritmo de dois dígitos no terceiro trimestre. “E bem acima dos 10%”, diz ele. No Brasil, a meta de expansão média de 30% até 2014 está sendo folgadamente superada, de acordo com Garcia.

No consolidado do ano, até o fim de setembro, a subsidiária local registrou 57% a mais de vendas, acumulando US$ 2,4 bilhões. Os pedidos em carteira subiram 47%, para US$ 3,3 bilhões, garantia de que os negócios continuarão acelerados pelos próximos tempos.

Para acompanhar essas perspectivas, a empresa deverá ampliar o número de empregados no Brasil de 6,5 mil para 9,5 mil, até o fim de 2012, sem contar possíveis aquisições. “Tudo o que está acontecendo aqui no Brasil é ‘overwhelming’”, diz Garcia, sem conseguir se lembrar da tradução da palavra em português: impressionante.

O executivo demonstra esforço para se expressar na língua pátria, mas o sotaque ainda carrega traços do inglês. A dificuldade é fácil de ser compreendida. Desde 1981, Garcia vive fora do Brasil. Primeiro como estudante de economia na Universidade da Carolina do Norte. Em 1985, ingressou na GE, como trainee, em Cleveland, e nunca mais deixou a empresa.

Comandou operações da unidade de saúde, a GE Healthcare, em Londres e Paris. “Já melhorei bastante desde o começo do ano, mas o meu vocabulário de negócios foi todo desenvolvido nos EUA”, afirma Garcia, natural de Ribeirão Preto (SP) e casado com uma ucraniana. Mais do que falar a língua local, a missão de Garcia é tornar a GE Brasil independente operacionalmente do Exterior. Em quanto tempo? “Não tenho uma data específica, mas preciso ser o mais rápido possível”, diz o executivo. Para atingir esse objetivo, Garcia recebeu uma bolada de US$ 570 milhões para gastar até 2013.
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O valor será incrementado a qualquer momento, podendo atingir US$ 1 bilhão, segundo afirmou Immelt, o CEO global, em visita ao Brasil, em fevereiro deste ano. Parte representativa desse montante já está comprometida.

A fábrica da GE Celma, responsável pela manutenção de turbinas de aviões em Petrópolis (RJ), receberia US$ 50 milhões de investimentos até 2014. Mas agora o valor chegará a US$ 90 milhões. No momento, ela passa por uma ampliação para poder fabricar turbinas no Brasil. Isso não ocorre por acaso, de acordo com executivos da GE: a Celma é considerada uma das cinco mais eficientes operações de serviços para turbinas do grupo no mundo.

A GE Transportation, que produz locomotivas em Contagem (MG), recebeu também um aporte. Foram R$ 10 milhões para duplicar a produção, para 120 locomotivas. Ainda na cidade mineira, a empresa inaugurou, em julho deste ano, a primeira fábrica da GE Healthcare na América do Sul.

Serão investidos US$ 50 milhões em dez anos para produzir equipamentos de raio X, mamografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética. Haverá ainda uma unidade fabril de energia eólica de R$ 45 milhões na Bahia. Segundo Garcia, outras instalações serão anunciadas, recebendo mais R$ 200 milhões.

Garcia foi também buscar um dos principais especialistas em fusão e aquisições mundiais da GE para criar uma equipe com a missão de procurar empresas para comprar ou para a formação de joint ventures no Brasil. Sem uma meta definida, o grupo tem potencial de fechar até US$ 1 bilhão em negócios e ampliar significativamente a receita no Brasil.

O escolhido para chefiar o time foi o ítalo-argentino Fernando Bertoni, que comandou, no começo deste ano, a compra da britânica Wellstream, por US$ 1,3 bilhão. “Conheço Garcia das reuniões de altos executivos da GE na Europa”, diz Bertoni.
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Voo de cruzeiro: a fábrica da GE Celma, localizada em Petrópolis (RJ), vai receber US$ 90 milhões
e passará a produzir turbinas de aviões no Brasil

Desde julho deste ano, Bertoni comanda um grupo de 20 pessoas. Cerca de 20 empresas são avaliadas nas áreas de energia, recursos naturais, saúde e transportes. Bertoni afirma que a negociação com várias delas está avançada e demonstra empolgação com o que tem visto.

Após ter passado 15 anos sem voltar a São Paulo, encontrou, desta vez, algo que o lembrava de um período específico de sua vida, quando foi advogado de fusões e aquisições. “A São Paulo de hoje se assemelha à Nova York dos anos 1990”, afirma Bertoni. “Parece o centro do mundo, com as pessoas otimistas e muitos negócios acontecendo.” Aparentemente, depois de quase dez anos de percalços, os ventos favoráveis dos tempos de Welch vão voltar a soprar. Mas agora a favor de Garcia.

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Fonte:istoedinheiro11/11/2011

12 novembro 2011



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