08 setembro 2011

Na Índia, nova onda é criar aplicativos móveis

A porta de entrada da MoFirst Solutions não fica longe das pilhas de lixo e dos cachorros abandonados de uma das muitas favelas de Mumbai. Dentro, o escritório é parecido com os de outras companhias indianas de "programadores de aluguel", uma parte do setor de serviços de tecnologia da informação (TI) e terceirização do país, que movimenta US$ 88,1 bilhões por ano. Duas dezenas de trabalhadores sentam-se lado a lado, sem ar-condicionado, fazendo códigos de programação em laptops. A principal diferença? Eles estão criando aplicativos para o iPhone.

Embora os serviços de TI ainda dominem o setor de tecnologia do país, companhias como a MoFirst estão iniciando a próxima onda de terceirização da Índia, com milhares de programadores contratados nos últimos anos para aproveitar a demanda pela criação de programas para o iPhone e o iPad, da Apple, e dispositivos que rodam sob o sistema operacional Android, do Google. A terceirização dos aplicativos móveis poderá tornar-se um negócio mundial de US$ 5,6 bilhões por ano até 2015, segundo estimativas da consultoria Forrester Research, e se a história servir de indicador, grande parte desse dinheiro irá para o subcontinente asiático. "A Índia é um lugar óbvio para se fazer isso, pelo mesmo motivo que o modelo dos softwares e serviços vem funcionando aqui: o custo é menor", afirma Anshul Gupta, analista da consultoria Gartner em Mumbai.

Programadores recém-formados ganham o equivalente a US$ 437 por mês na MoFirst, em Mumbai
Os encomendas para os programadores escreverem códigos para a plataforma iOS, da Apple, cresceram 20% entre o primeiro e o segundo trimestres, de acordo com a Elance, uma empresa de Mountain View, na Califórnia, que coloca em contato terceirizadores como a MoFirst com aqueles que querem criar aplicativos. A demanda por programadores com conhecimentos do Android cresceu 15%, enquanto as solicitações por programadores familiarizados com o BlackBerry, da Research In Motion (RIM), cresceram 3%, também segundo a Elance.

"O negócio em torno iPhone é muito, muito estimulante", diz Ajai Shankar, que passou 12 anos nos Estados Unidos como programador de softwares de companhias que incluem o Walmart. Ele voltou para a Índia este ano para montar sua própria loja de desenvolvimento de aplicativos móveis. "O problema hoje em dia é que uma vez que você desenvolveu um aplicativo para o iPhone, a próxima coisa é fazer o mesmo para o Android."

A MoFirst cobra de seus clientes, que estão principalmente nos Estados Unidos, no Reino Unido e no Oriente Médio, de US$ 15 a US$ 20 a hora, diz Akash Dongre, diretor operacional da companhia. Isso se compara à taxa de US$ 50 a US$ 100 por hora cobrada por desenvolvedores dos EUA. Uma das criações recentes da MoFirst, lançada este ano, é o Friends Aloud, um aplicativo que comunica a atualização de status no Facebook. A MoFirst cobrou de um empresário do Texas cerca de US$ 8 mil para desenvolver o aplicativo, menos da metade do que ele teria custado nos EUA, e o concluiu em cerca de três meses, afirma Dongre.

A concorrência da MoFirst inclui a Qburst Technologies, que começou a operar em 2004 desenvolvendo sites de internet na cidade de Trivandrum, ao sul da Índia, e em 2008 passou a construir aplicativos. A Qburst ajudou a desenvolver 150 aplicativos móveis para clientes do Reino Unido e dos EUA. Isso inclui um aplicativo para iPhone para a PrivateFly, de St. Albans, no Reino Unido, que permite aos usuários procurar e agendar a locação de jatinhos particulares; um aplicativo de comércio eletrônico para iPad para a Simba Toys; e um aplicativo de busca e compras para iPhone para a thefind.com. A companhia, que emprega 400 pessoas, viu sua receita, que inclui o desenvolvimento de sites e de aplicativos para o iPad, aumentar 76%, para US$ 3,18 milhões, no ano passado, segundo Manjith Kamalasanan, um gerente de desenvolvimento de negócios da Qburst.

As contratações ficaram mais difíceis. "A concorrência aumentou muito", diz Dongre, da MoFirst. Em sua companhia, profissionais recém-formados em universidades recebem um salário mensal de 20 mil rúpias (US$ 437), mas muitos recebem aumentos de 40% em seis meses, por causa da concorrência e do "roubo" de funcionários por outra empresas de desenvolvimento de aplicativos móveis. Kamalasanan diz que a Qburst precisará recrutar meia dúzia de desenvolvedores experientes e uma dúzia de outros profissionais, com menos experiência, nos próximos três meses.

A ascensão dos desenvolvedores de aplicativos móveis indica que as companhias de tecnologia indianas podem estar evoluindo para longe do velho modelo dos serviços de softwares sob encomenda, em direção à construção de produtos completos, afirma Gupta, do Gartner. "Não se trata totalmente do tipo de atividade de terceirização voltado ao exterior que vem ocorrendo na Índia há algum tempo", diz ele. "É mais a criação de um aplicativo do zero; tem mais a ver com pesquisa e desenvolvimento e invenção."
Fonte valor economico08-09-2011

08 setembro 2011



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