09 setembro 2011

Exportação cresce, mas Brasil ainda está longe da Índia

Quando começou a falar na prestação de serviços para clientes do exterior e na internacionalização da BRQ, em 2008, o fundador e presidente da companhia, Benjamin Ribeiro Quadros, acreditava que em pouco tempo a receita da companhia com essa atividade poderia chegar a 30% do total. A estratégia apoiava-se na possibilidade de o Brasil seguir os passos da Índia, maior fornecedora global de serviços de software, e tornar-se um dos principais destinos para projetos desse tipo.

A BRQ investiu em pessoal, treinamento e até comprou uma empresa com 100 funcionários nos Estados Unidos, a Think. A expectativa era chegar a cinco mil profissionais no país em três anos. Mas a empreitada não teve o sucesso projetado. Hoje, as receitas internacionais representam 10% do faturamento da BRQ, de R$ 250 milhões, e a operação nos EUA continua com um quadro do mesmo tamanho de 2008. "A ideia era que a exportação seria a responsável por projetar o setor de tecnologia da informação (TI) brasileiro no cenário internacional. Não foi isso que aconteceu", diz Quadros.

Grande bandeira do setor de TI nos últimos seis anos, a venda de software e serviços para os EUA e a Europa ficou bem abaixo das projeções. A estimativa da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação (Brasscom) era de que as exportações brasileiras chegassem a US$ 3,5 bilhões até o fim de 2010. Segundo a consultoria IDC, no entanto, o valor ficou em US$ 2,4 bilhões. "Os negócios andaram de lado", diz Mauro Peres, presidente da companhia.

Apesar de crescer 1.100% em seis anos, para US$ 2,4 bi, vendas permanecem distantes dos US$ 50 bi indianos

O desempenho abaixo das expectativas está ligado, em grande parte, às turbulências no cenário econômico mundial. A crise de 2009 reduziu a demanda de novos projetos por parte de empresas dos Estados Unidos e dos países da Europa. Ao mesmo tempo, a economia aquecida no Brasil fez o mercado interno crescer e movimentar cada vez mais dinheiro, reduzindo o ímpeto das empresas brasileiras em buscar negócios fora do país.

"Diferentemente das companhias brasileiras do setor, as empresas indianas têm maior apetite pela exportação porque o mercado interno é menor e eles não têm para onde ir", diz Antônio Carlos Gil, presidente da Brasscom. Segundo dados da associação, o mercado interno brasileiro movimentou US$ 82,7 bilhões em 2010, ante US$ 22 bilhões do mercado interno indiano.

A crise econômica mundial tambem ajudou a reverter uma tendência que vinha fazendo o país ganhar algum espaço no cenário da terceirização internacional, ou offshore. Questões como a instabilidade política indiana e o aumento do custo da mão de obra naquele país começaram a levar companhias de todo o mundo a procurar destinos alternativos para seus projetos de terceirização. Com a crise, os grandes clientes frearam a tendência de diversificação, fixando-se em seus fornecedores tradicionais.

A paulista Concrete Solutions foi uma das empresas que sentiu o recuo. Nos últimos dois anos, os negócios internacionais, que chegaram a representar 30% do faturamento, caíram para 10% do total, afirma Fernando de la Riva, presidente da companhia. "O mercado brasileiro paga mais", diz o executivo.

Apesar de estar voltada ao mercado nacional no momento, de la Riva afirma que a Concrete Solutions não pretende deixar de ter pelo menos 10% de seu faturamento baseado na exportação. "Precisamos ficar atentos ao mercado externo para não perder contato com as tecnologias e práticas mais modernas", diz o executivo.

O esforço de internacionalização dos últimos anos não foi desprezível: em 2004, quando começaram as movimentações em torno do tema, as exportações brasileiras somavam apenas US$ 200 milhões. O crescimento em seis anos, portanto, foi 1.100%. Em âmbito global, no entanto, os US$ 2,4 bilhões exportados em 2010 não deixam o Brasil nem perto da Índia, que exportou US$ 50 bilhões no período, segundo dados da Associação Nacional das Empresas de Software e Serviços da Índia (Nasscom, na sigla em inglês).

Fatores como a proximidade cultural e a vantagem com relação ao fuso horário não foram suficientes para compensar a diferença de custo entre profissionais brasileiros e indianos. As estimativas indicam que os programadores no Brasil podem custar até 70% mais que os indianos por conta da carga tributária e do câmbio valorizado.

Na avaliação de Roberto Marinho Filho, presidente da TCI BPO, o mercado internacional é muito importante, mas o projeto de tornar o Brasil uma segunda Índia tem problemas porque os cenários de investimento no setor são diferentes nos dois países. "Fazer software no Brasil é muito difícil. É como criar pinguim no deserto", diz.

Para o executivo, existe espaço para as empresas brasileiras em mercados de língua hispânica e portuguesa. "Os indianos demoraram 30 anos para conquistar o mercado de língua inglesa. Nossa oportunidade está do México para baixo, na Península Ibérica, nos países africanos. Nesses locais o Brasil tem um potencial enorme", afirma.
Fonte:valoreconomico09/09/2011

09 setembro 2011



0 comentários: