19 setembro 2011

Dass investe para ampliar a produção na Argentina

Diante da perspectiva de reeleição da presidente argentina Cristina Kirchner, a indústria calçadista brasileira parou de fazer contas e decidiu ampliar a produção na Argentina, mesmo com uma estrutura de custos mais alta do que no Brasil. É o caso da Dass, de Santa Catarina, que produz calçados para marcas como Fila, Umbro e Nike A avaliação, pragmática, é que a política de indução à substituição de importações do governo argentino vai permanecer por longo prazo. Em jogo, está um mercado longe de ser desprezível: consome 200 milhões de pares esportivos por ano e conta com uma produção de 136 milhões de pares.

"O negócio compensa os riscos que estamos correndo, o mercado consumidor aqui é muito interessante. Não é a melhor coisa que existe no mundo, mas, dadas as circunstâncias, estamos felizes", diz Vilson Hermes, presidente do grupo catarinense Dass. Sediada em Saudades, cidade próxima a Chapecó, no oeste de Santa Catarina, a Dass começou a produzir em Eldorado, na província de Misiones, localizada entre o Paraguai, Paraná e Santa Catarina, em 2007, com uma linha de apenas 100 mil pares por ano.

Este ano, após a compra do maquinário e das instalações, até então em comodato, vai produzir 2 milhões de pares, tendo crescido 60% em doze meses. O investimento foi de US$ 30 milhões. A produção argentina irá responder por 13% das cerca de 15 milhões de peças de artigos esportivos que produz nos dois países em doze fábricas, que faturaram R$ 689 milhões no ano passado. Das 12 fábricas, uma fica na Argentina.

A Dass deve faturar este ano R$ 850 milhões, sendo 10% na Argentina. É um crescimento de 23% em vendas, em comparação a 2010. "Estamos crescendo na Argentina para substituir importações, não há outra razão", diz Hermes. O empresário afirmou que o custo de produção em Misiones é 12,5% superior ao do Brasil, mas a diferença tem se estreitado em função da defasagem cambial brasileira acumulada e dos aumentos salariais no Brasil. Em outras províncias argentinas a diferença é maior. Na de Buenos Aires, produtores brasileiros de calçados esportivos relatam que o custo da mão de obra local em comparação com a do Brasil chega a equivaler ao dobro.

O Sindicato dos empregados da indústria calçadista em Buenos Aires conseguiu este ano um dos maiores reajustes salariais do país, com um aumento de 39%. A inflação oficial na Argentina é de 9%, mas o dado governamental é de credibilidade discutível. A inflação real é avaliada em 23%.

Diversas empresas brasileiras, além da Dass, produzem calçados na Argentina. A Vulcabras é uma delas. A Alpargatas Argentina, controlada desde 2007 pela Camargo Corrêa, é uma das maiores do setor - no fim do ano passado informou produção de quase 8 milhões de pares ao ano. A Penalty produz em parceria com uma indústria local e a Paquetá fabrica tênis esportivos da marca Adidas.

A política de substituição de importações na Argentina é particularmente ativa em setores que envolvem o uso intensivo de mão de obra, como o de calçados e o têxtil. Para forçar as empresas estrangeiras a produzir no país, o governo argentino usa regras escritas e não escritas. No primeiro grupo, está o uso das licenças não automáticas para importação, um mecanismo defensivo de comércio.

Segundo a empresa de consultoria GTA, a Argentina é o país que mais lança mão de mecanismos de proteção comercial no mundo, tendo atualmente 148 medidas em vigor. O Brasil aparece em sétimo neste ranking, com 76 medidas restritivas.

No grupo de regras não escritas, está a lei do "uno por uno", que impacta sobretudo os detentores de grifes: só se permite a importação caso o importador também exporte, qualquer que seja o produto. A determinação foi transmitida verbalmente para um universo que atingiu da Porsche aos fabricantes da boneca Barbie.
Fonte:valoreconomico19/09/2011

19 setembro 2011



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