04 julho 2011

“Demorô, Carneirinho”, disse o Lobo"

Consta que um jovem carneirinho, desses bem espertos e animados, vivia pedindo à sua mãe:“quero brincar com o lobo, quero brincar com o lobo”. A mãe explicava, alertava, brigava, chorava, enfim, fazia tudo que as mães, mestras nos mistérios e sortilégios da vida, fazem por afeto e por temor. O carneirinho, movido pela moderna pressa do hoje, do aqui, do agora, insistia: “quero brincar com o lobo”.

A mãe tentou o racional. Explicou que lobos e carneiros são espécies inimigas desde sempre, e nada. O carneirinho queria porque queria. Fez um convite no Facebook, mandou um email e tuitou: “Caro lobo. Sou um carneirinho e quero muito brincar com você. Minha mãe é contra e diz que é perigoso. Será”?

O lobo respondeu de pronto. “Imagina, carneirinho. Deve ser excesso de zelo, o amor, às vezes, faz, isso”. O lobo indicou dia, hora e local para ele e o carneirinho se encontrarem. E avisou: “não conte à sua mãe, ela ficará preocupada à toa”.
Foi duro o carneirinho segurar a ansiedade, mas o grande dia chegou. E foi uma festa. Brincaram até não mais poder, o dia acabando, quando então o lobo atacou o carneirinho. Este ainda tentou argumentar que o próprio lobo dissera que o encontro era só para brincar. O lobo concordou, pediu desculpas e alegou que não podia contrariar sua natureza.

Negociações, às vezes, podem representar situações de grande risco. Um dos interlocutores dispõe de argúcia, força e apetite em excesso. E o oposto em ética. E possível negociar nesse cenário e sair inteiro?

Conhecer o interlocutor, estudar o cenário, entender o contexto e considerar os desdobramentos são elementos vitais para negociações inteligentes, permitindo que os negociadores subam juntos a mesma montanha e um não pense em jogar o outro lá de cima ao fim da jornada.

O conflito negocial que ainda persiste trata da postura ganha-ganha versus postura ganha-perde. Cooperação ou competição? Para que lado pende mais a natureza humana?

Em negociação, deve pender para a inteligência, criatividade e resultado. Lobos não negociam com carneiros, e são os carneiros que precisam entender isso. Ao alinharmos o melhor da natureza humana – a co-criação – com a natureza da negociação – a engenharia do acordo -,não precisaremos contrariar nem uma nem outra.
Alfredo Duarte

Fonte:Exame01/07/2011

04 julho 2011



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